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Hiperfoco

HIPERFOCO, de Chris Bailey e lançado em 2019, é daquelas
leituras rápidas direcionada para quem se sente pouco produtivo. Eu não sou uma
pessoa particularmente desfocada, e tendo a ter facilidade em me concentrar em
uma única tarefa por um longo período de tempo. Contudo, tenho dificuldade em
focar quando há distrações externas, como o trabalho no escritório repleto de
colegas conversando (mesmo que eles não me interrompam).

Assim, peguei o livro atrás de uma orientação, e, ao final,
entendo que a melhor dica foi da prática da meditação. Ainda não me seduz ficar
10min pensando no próprio nariz, mas creio que é a terceira vez que me deparo
com essa abordagem (primeiro em Além da religião e acho que também no livro de Ray Dalio,
Princípios
)

 

Praticar o hiperfoco significa administrar de forma deliberada
sua atenção. Quando fazemos isso seremos mais produtivos, pois nos tornamos
mais conscientes do que pensamos e melhoramos nossa memória.

Introdução

A todo o momento temos nosso foco em ALGUMA coisa. Chris compartilha conosco que ele gosta de observar as pessoas e como elas focam/distribuem sua atenção. Não é incomum ele observar grupos e casais em cafés que, apesar de diante uns dos outros, estão focados não na pessoa em sua frente, mas em outra coisa (geralmente, o celular).

Ele se auto intitula “especialista da produtividade” [aspas dele] e nota que, à medida que ele foi acumulando dispositivos eletrônicos, sua atenção ficou cada vez mais dispersa. Começa então a empreitada do autor no universo acadêmico, lendo pesquisas, experimentos e publicações com o intuito de responder à pergunta: qual a melhor forma de se concentrar?

Alguns estudos mostram o absurdo da fragmentação da atenção: só conseguimos ficar 40 SEGUNDOS em uma tarefa sem que algo/alguém nos interrompa ou nós mesmos nos distraímos.

O livro será um apanhado dos estudos e testes que Bailey leu e praticou na tentativa de responder a essa pergunta. Nas palavras dele, parece tudo como mágica, mas não é depois que você se compromete a tentar.

Quando a mente não se interessa por uma tarefa, ela irá encontrar meios de protelar e focará sua atenção em outra. Modificar o ambiente é uma das melhores maneiras de cultivar o foco para onde você quer/precisa que ele esteja. O autor nos dá dicas logo no início de como focar a leitura no livro dele: liste as principais fontes de distração para você (internas e externas) e tente “resolvê-las” antes de focar na leitura do livro (ou em qualquer outra tarefa significativa para você).

Mantenha um PAPEL (não vale o celular!) e anote todas as ideias que vem a sua mente enquanto lê. Escrevê-las vai garantir que elas não escapem, e você pode pensar nesses problemas DEPOIS.

Só avance nas páginas do livro quando estiver engajado com a leitura.

Parte I – Hiperfoco

Cerca de 40% das nossas ações são hábitos que não exigem deliberação consciente. Ao que resta, nossa atenção paira em um terreno no piloto automático, focando geralmente no que mais importa naquele instante. A ATENÇÃO é um recurso limitado e restrito, e quanto mais intenção tivermos (menos piloto automático) mais produtivo seremos.

O autor comenta que a leitura, especialmente de um livro, exige atenção por um grande período de tempo, e, com a disputa de atenção por todos os apps, são poucas as pessoas que tem sido capazes de se dedicar a leitura sem distração.

Um exemplo clássico de perda de atenção [e que eu me identifico totalmente] é quando chegamos em um cômodo da casa e esquecemos o que fomos fazer ali. Perder a atenção é fácil, externamente e internamente recebemos estímulos de forma contínua: atualizações no celular/computador, itens que nos lembram tarefas, preocupações, calendários…

As coisas mais imediatas e estimulantes em seu ambiente raramente são as mais importantes.

 

POUCO ATRANTE

ATRAENTE

PRODUTIVA

Trabalho necessário

Trabalho intencional

IMPRODUTIVA

Trabalho desnecessário

Trabalho distrativo

 

Da mesma forma que nos 7 hábitos das pessoas eficazes temos o quadrante das tarefas com base na importância e na urgência, aqui, temos uma releitura para entender o que é trabalho que deve ou não ser feito (e qual o grau de empolgação que temos ao fazê-lo).

Gastar tempo com trabalho desnecessário nos mantém ocupados, mas é apenas uma forma ativa de preguiça, pois não nos leva a conseguir alguma coisa de verdade.

Quando trabalhamos no piloto automático, estamos mais propensos a entrar na última linha do quadrante com tarefas improdutivas. A nossa atenção é limitada pois há um montante finito de “coisas” nas quais podemos concentrar. Para ser realista, conseguimos fazer bem no máximo duas coisas ao mesmo tempo. O número de “coisas” que podemos inserir no nosso espaço atencional ronda em torno de 7. Não importa muito o tamanho dessas “coisas”, são apenas partes de informação exclusivas.

O cérebro é uma máquina que processa informações a um nível alucinante, mas apenas uma pequena parte dela é processada conscientemente (dos 11milhões de bit recebidos, apenas 40 são processados conscientemente). O foco define o que vai ser retido na memória de curto prazo, e, mais tarde, o que será armazenado na de longo.

O espaço atencional é como se fosse um bloco de rascunho antes de chegar na nossa RAM. Vamos rascunhando e escrevendo por cima o que mais nos atrai naquele momento. O foco seria a seleção da informação dentro do espaço atencional em que estamos mais “conectados” em um dado instante.

O primeiro passo para administrar bem o espaço atencional é se conscientizar sobre o próprio pensamento. Quanto mais você perceber o que está ocupando o espaço atencional, mais rápido poderá mover a intenção para onde precisa realmente focar.

Nossa mente divaga cerca de 47% do tempo, assim, saber guiar os pensamentos de volta para o foco é essencial a todo momento.

MINDFULNESS

=

ATENÇÃO PLENA

=

saber o que está preenchendo sua mente por completo sem julgamentos

 

 

Já está comprovado [não sei como] que o simples fato de OBSERVAR o que se está pensando te deixará mais produtivo.

O espaço atencional é limitado, porém móvel. Ele se expande ou se retrai de acordo com nosso “estado de espírito”. Seu conteúdo muda incessantemente, e manter as coisas nos trilhos fará com que você execute melhor cada tarefa se não chavear tanto o pensamento.

As 7 “coisas” que coabitam o espaço atencional podem ser de tamanhos distintos: dependem da sua complexidade (hábitos ocupam pouco espaço pois precisam de pouca reflexão e o próprio cérebro direciona fluxo sanguíneo para os gânglios basais em detrimento do córtex pré-frontal). Além disso, as tarefas, quando suficientemente diferentes não competem pelos mesmos recursos mentais (atividades físcias, lógica, arte, etc).

Quando manipulamos conscientemente informação, nosso espaço atencional fica tomado. A multi-tarefa só funciona então para atividades opostas (complexa + hábito) e que não compitam pela mesma região cerebral. No geral, são três tipos de combinações que funcionam:

1)    Tarefas pequenas habituais (correr, respirar e ouvir música)

2)   Tarefa habitual + tarefa que exige foco (lavar a louça + ouvir poadcast)

3)   UMA tarefa complexa (montar um relatório para a diretoria)

Não é uma boa prática preencher por completo seu espaço atencional. Quando há “sobras”, isso permite que você consiga refletir quanto a melhor abordagem para alguma tarefa e te dá mais controle para reorientar a mente quando ela divagar. Lotar o espaço atencional também afeta sua memória negativamente.

Quanto mais arrumado seu espaço atencional, mais claramente você vai pensar

Cuidado com os chaveamentos: buscar novas tarefas é um vício conhecido, toda vez que mudamos a atenção, o cérebro é inundado com dopamina. Nosso cérebro desenvolveu-se para sobreviver e reproduzir (duas atividades que precisam de novidade sempre) e não fazer trabalho intelectual (evolutivamente falando, somos “intelectuais” a uma fração de segundo). Para a realização de hábitos, precisamos mais dos gânglios basais, mas para codificar informação, dependemos do hipocampo.

Só porque estamos mais ocupados não significa que estamos alcançando mais. Produtividade é realizar aquilo que se pretende alcançar (e escolhê-lo antes de começar).

Se nosso espaço atencional é o rascunho e ficarmos trocando-o como um carrossel, ao final do dia, não teremos aprendido nada. Para aprender precisamos do hipocampo, de foco e dedicação. Não adianta somente passar pelos destaques e notificações dos aplicativos. É preciso sempre um mergulho para aprender qualquer coisa.

Ainda, a cada tarefa que trocamos, ela gera um ruído atencional, que faz com que voltemos a ela parcialmente, e não nos deixe “seguir plenamente em frente”. Quando você muda de tarefa apenas quando finaliza algo, você reduz o ruído atencional e pode seguir para a próxima tarefa de forma mais fluída.

Guardamos na nossa mente uma série de circuitos abertos ansiosos para serem fechados. Quanto mais trabalho inacabado, mais ansiosos ficaremos. Por isso, é melhor terminar as tarefas antes de seguir em frente com outras. Quanto mais repentinamente pararmos de trabalhar em uma tarefa criativa, mais pensamos nela pois ela tende a ficar como um resíduo no nosso espaço atencional.

O estado que o autor chama de hiperfoco é quando você preenche todo o espaço atencional com apenas uma única tarefa, para isso, é necessário administrar a atenção de forma deliberada e determinada., eliminando distrações que, inevitavelmente, surgirão. Quando começar a praticar o hiperfoco, vai perceber que a produtividade aumenta exponencialmente à medida que reduzimos o número de coisas em que prestamos atenção simultaneamente.

Levamos em média 22minutos para voltar a trabalhar em uma tarefa depois de sermos distraídos e interrompidos. Quando nos distraímos sozinhos, o tempo é ligeiramente maior: 29 min.

Para atingir o estado do hiperfoco, você deve:

1)     Escolher o objeto de atenção

2)    Eliminar proativamente as distrações externas (escolha bem seu ambiente) e internas (anote o que lhe preocupa para pensar nesses problemas DEPOIS)

3)    Foque no objeto de atenção!

4)    Verifique rotineiramente no que está pensando, sua mente IRÁ divagar, e você é o responsável por trazer ela de volta aos trilhos

Não use o hiperfoco para tudo: em um teste com digitadores perceberam que, quanto mais atenção punham na tarefa, mais devagar digitavam e mais erros cometiam. Digitar, para eles, já era um hábito. Nesse caso, era melhor ligar o piloto automático.

Atenção sem intenção é desperdício de energia. A intenção deve sempre preceder a atenção.

Uma prática que o autor adota é, ao começo do dia, escolher três coisas que quer realizar até o fim do dia. Ao se forçar escolher apenas três coisas você realizará muito mais. Três intenções cabem no seu espaço atencional de forma confortável e ainda há espaço para as urgências do dia. [eu já vi CEOs falarem em cinco coisas, e eu, particularmente tenho uma lista infinita que sempre reorganizo em ordem de prioridade. A lista infinita não me incomoda, e eu vou realizando em ordem, alguns dias realizarei mais, outros menos, a depender da complexidade das tarefas].

No caso do autor, ele gosta de ter 3 intenções diárias, 3 intenções diárias pessoais e 3 intenções semanais (para trabalhos mais complexos).

Categorizar importância das tarefas pode ser difícil, mas você não deve perder tempo excessivo com isso. Uma dica do autor é que as tarefas mais importantes são aquelas que levam as consequências mais positivas [e podemos usar o quadrante dos 7 hábitos para auxiliar aqui também]. Na abordagem de Bailey, você separaria um tempo para listar as tarefas entre as categorias necessário, intencional, distrativo e desnecessário, e começaria pelas tarefas necessárias e intencionais qual tem maior potencial de iniciar uma reação em cadeia.

É inútil definir metas e intenções se você não age para cumpri-las durante o dia

Como a mente divaga e somos propícios a protelar, Chris sugere o uso de um alarme a cada hora para que verifiquemos de forma consciente o que está tomando conta de nosso espaço atencional [ eu nunca li a fundo sobre a técnica pomodori, mas cheguei a usa-la um tempo. Me parece que a abordagem dele é muito similar, só não deu nome aos bois -e não sei quem veio primeiro, o importante é dividir seu tempo e ser autoconsciente do que se quer alcançar!]

Quando o “alarme da consciência” tocar, pergunte-se:

  • Sua mente estava divagando quando o alarme tocou?
  • Você estava no piloto automático ou em algo que havia escolhido fazer intencionalmente?
  • O que está no seu espaço atencional?

Definir a lista de intenção não é o suficiente. É preciso ser específico quando a sua meta (ex: ir à academia 15hs é mais eficiente que somente “ir à academia”.). [Aqui, acho importante não exagerar. Se estamos falando de metas complexas, é certo que precisamos não só sermos específicos, como também ter um plano bem definido para elas – algo como 5W2H, mas se a tarefa é simples basta anotar o core dela e pronto]. Toda intenção precisa de um plano, e você precisa de fato se importar com elas. Intenções fáceis de se realizar não precisam ser tão específicas.

O autor nos conta que, ao iniciar sua pesquisa, ele mal conseguia focar, usando essas técnicas e começando com sessões de foco de 15min, ele conseguiu expandir seu espaço atencional e finalmente fazer sessões mais longas de hiperfoco.

Para embasar ainda mais os argumentos de como focar e que a nossa atenção tem ficado cada vez mais fragmenta, o autor apresenta exemplos e conclusões de estudos realizados em empresas, principalmente os conduzidos por Gloria Mark e Mary Czerwinski. Um diferencial desses estudos é que eles foram feitos diretamente nas empresas, e não em um laboratório. Segue alguns fatos interessantes/assustadores:

  • A cada 35 segundos (em média) somo interrompidos quando mantemos aplicativos abertos como skype/Messenger (imagine agora com o MSTeams/Slack!)
  • Em uma jornada de trabalho, alteramos 566 vezes entre aplicativos no computador
  • Verificamos o Facebook [acho que na época não tinha Instagram] 21 vezes por dia. Alguns participantes não visitam nenhuma vez, se olharmos apenas quem olhou ao menos uma vez, a média sobe para 38.
  • Depois que somos interrompidos, demoramos em média 25min para voltar o que estávamos fazendo.
  • A média de verificação do e-mail para quem trabalha com conhecimento é de 11 vezes por hora, contudo, gasta-se apenas 35 minutos de fato com o aplicativo.

 

Distrações são parte da vida, e algumas são úteis. Mas devemos nos organizar para blindarmos das inúteis e, até das úteis quando queremos fazer sessões de hiperfoco. A origem das distrações podem ser INTERNAS ou EXTERNAS. Curiosamente, as distrações que veem de nós mesmos (internas) são as mais “danosas”. As distrações externas podem ser gerenciáveis (como fechar a porta do escritório, desconectar a internte/e-mail mas por vezes são irremediáveis. Uma boa solução para não se irritar e tornar-se uma pessoa estrita demais é abraçar uma distração positiva quando ela ocorre (como uma ligação de uma pessoa querida ou almoções em equipe).

A maior parte das distrações é controlável. Cabe a nós listá-las e tomar atitudes para que elas sejam minimizadas e não ocorram. Além de tomar ações radicais de desligar aplicativos/internet, você pode usar aplicativos que são feitos justamente para esse fim. Defina horários para olhar o e-mail e desligue as notificações (você pode definir notificações VIP para receber notificações apenas do seu chefe, por exemplo). DESLIQUE alertas sonoros e vibratórios do celular (só de ser avisado que uma notificação chegou fará sua mente divagar – elas são o maior dissipador de produtividade)

A tecnologia deveria existir para nossa conveniência, e não para a conveniência de quem quer nos interromper

O trabalho em equipe e colaborativo é essencial, especialmente em grandes projetos. Quanto mais disponível estamos para o outro, mais o projeto andará. Planeje não só momentos de reclusão para hiperfocar, mas também momentos para interagir e estar disponível. A divisão entre o tempo colaborativo e solitário dependerá do seu tipo de trabalho.

Chris conta que, quanto mais pesquisava sobre produtividade, mais percebia que o celular deve ser encarado como um computador pequeno e irritante. Passou a deixá-lo na mochila, e não no bolso [isso me perturba pois eu tenho percebido que a cada dia fico mais grudada ao celular, andando com ele dentro de casa inclusive – antes ele ficava em um local específico. Uma boa prática que preciso fazer é simplesmente largá-lo e deixar o som ligado apenas de ligações. Se há uma urgência com meus pais ou na escola dos meus filhos, eles IRÃO ligar, então, para que ficar andando com o celular?]

Resista ao impulso de fuçar no celular quando estiver esperando na fila do supermercado, indo ao café ou ao banheiro. Use essas pequenas pausas para PENSAR e REFLETIR sobre o que está fazendo, recarregue as energias ao invés de ser sugado para um mundo confeccionado para lhe viciar.

Uma “regra” para manter o e-mail simples é usar apenas 5 frases. Se precisar mais do que isso, telefone. Assim você se livra de uma troca gigantesca de mensagens e conseguirá resolver o problema mais rápido.

Para quem exerce trabalho intelectual, costuma gastas 37% do tempo em reuniões. Saiba selecionar as reuniões de que participa para que seu dia seja de fato produtivo. Recuse-se a entrar em uma reunião sem pauta. Uma reunião sem pauta é uma reunião sem propósito. Sempre contribua de forma a redirecionar as discussões para a pauta e para que ela avance.

Transforme seu ambiente para estar livre de distrações, esconda o celular (mesmo com as notificações desligadas, não deixe ele ao alcance das mãos), avise os colegas que não quer ser interrompido quando a porta estiver fechada ou o status nos programa for “ocupado”.

Cuidado com música de fundo: está comprovado que algumas pessoas trabalham melhor ouvindo música, e isso também depende da tarefa que se está realizando e do tipo de música que se está ouvindo. Prefira música simples e conhecida se for fazer um trabalho intelectual, se estive apenas lavando pratos, você conseguirá ouvir um poadcast/entrevista. Lembre-se que temos somente um cérebro, a multitarefa funciona se você utilizar recursos distintos dessa máquina.

Geralmente nosso cérebro evita tarefas complexas, especialmente se estão no começo, ele irá protelar buscando tarefas mais estimulantes. Por isso é vital você preparar o ambiente, manter seu rascunho físico de ideias/tarefas para limpar seu espaço atencional e ser fiel a si mesmo ao realizar as tarefas na ordem de importância que você definiu inicialmente.

Outro método para expandir o espaço intencional, a memória de trabalho e facilitar seus momentos de hiperfoco, é a prática da meditação. O autor fala em começar simples, geralmente, separando 10min por dia em que seu objetivo é pensar apenas na sua respiração. Sua mente irá divagar, e o objetivo é fazê-la voltar para a respiração.

Quando o desafio de terminar uma tarefa é quase igual à nossa capacidade de fazê-lo, ficamos totalmente imersos na tarefa.

Quando nossas habilidades excedem muito as demandas de uma tarefa ficamos entediados.

Quando as demandas excedem nossas competências, ficamos ansiosos.

O autor também comenta sobre aplicativos que dizem aumentar a memória e atesta que diversos estudos científicos que ele examinou não acharam nenhuma prova que eles façam alguma diferença. A medição, contudo, é uma prática já comprovada para melhorar a memória e a concentração.

Uma forma mais “simples” de medição é praticar a atenção plena [ para mim, pareceu hiperfocar em tarefas simples]. Escolha uma tarefa diária como tomar café ou caminhar da sua mesa até o banheiro e foque inteiramente nessa ação. Não exija demais da sua mente, ela foi feita para divagar e divagará. Apenas volte o centro de sua atenção para a tarefa quando perceber que divagou.

Quando praticamos a meditação e a atenção plena, no fundo, estamos praticando lembrar mais, e assim nossas experiencias se tornam mais significativas.

Estou convencido que o amor nada mais é do que compartilhar atenção de qualidade com alguém.

Lei de Parkinson: o trabalho tende a se expandir para se encaixar no tempo de conclusão disponível

Da próxima vez que achar que está muito ocupado(a), avalie o quanto de trabalho improdutivo está fazendo e repense suas obrigações. Talvez esteja na hora de pegar mais responsabilidade e se ocupar com coisas que de fato façam a diferença.

Você sempre tem tempo. Só gasta esse tempo fazendo outras coisas.

Concluindo, o hiperfoco é o modo mais produtivo do cérebro e envolve direcionar a atenção para fora, em uma tarefa externa. Já o foco disperso é o modo mais criativo, e envolver voltar nossa atenção para dentro de nossa própria mente.

Parte II – Foco disperso

Se nossa intenção é resolver problemas, precisamos ser criativos e sonhar acordados (ao contrário do que queremos com o hiperfoco). Para entrar no modo foco disperso basta deixar a mente livre. Quanto mais criatividade nosso trabalho exige, mais liberdade devemos dar aos nossos pensamentos.

Quando divagamos, visitamos três tempos: passado, presente e futuro.

  • 12% do nosso tempo pensamos no que aconteceu (38% naquele dia, 42% ao dia anterior e 20% no passado distante).
  • 28% pensamos no presente
  • 60% pensamos no futuro (cerca de metade desse tempo no futuro imediato/mesmo dia e o restante nos dias subsequentes)

Com o foco disperso e conectando os três tempos, conseguimos pesar melhor as consequências de cada escolha.

Podemos divagar de forma VOLUNTÁRIA ou INVOLUNTÁRIA. Para entrar no modo foco disperso, é preciso que intencionalmente façamos isso, ou nossa mente irá divagar sobre os assuntos mais aleatórios e não chegaremos à decisão nenhuma. Dentro do foco disperso, o autor divide três modos:

  • CAPTURA: mente divaga livremente e anotamos tudo o que surgir
  • RESOLUÇÃO DE PROBLEMAS: manter um problema solto e orientar os pensamentos para que pensem em torno dele
  • HABITUAL: envolva-se em uma tarefa simples (mecânica ou habitual) e capture ideias a partir do que surgir. Esse é o modo mais poderoso (por isso muitas pessoas têm ideias no banho!)

Já foi comprovado [não sei como] que tarefas habituais produzem o maior número de insights criativos quando comparado a tarefas exigentes, ao descanso ou a não fazer nenhum tipo de pausa. Experimente tomar um café no meio da tarde e não leve o celular com você, deixe sua mente divagar e aprecie o café. Boas ideias virão. Sair para uma caminhada vai conectar mais ideias do que ouvir música ou ler um livro.

Dispositivos distrativos (como o danado do celular) também não ajudam no foco disperso. Eles eliminam o tédio e nos sobrecarregam de informações. O tédio é parte importante do processo de geração de ideias e deve ser encarado como um dos métodos para se alcançar o foco disperso. Por isso, as mesmas dicas de eliminação de distrações valem para o foco disperso – a diferença é que aqui, deixamos nossa mente divagar. Obviamente excesso de tédio não é recomendado, pois ele nos deixa ansiosos e inquietos, ansiando por mais estímulo dopaminístico.

O foco disperso também é uma foram de descanso do cérebro. Use ele para não bitolar seu espaço atencional com sessões longas e contíguas de hiper foco.

Pausas divertidas e prazerosas tem o poder de renovar seu espaço atencional e re-expandí-lo. Resista ao impulso visceral que atinge a nova era humana de olhar o celular ou as notificações no computador. Desconecte-se de novas informações (ou de frustrações por posts não curtidos). Ao invés disso, busque interagir com pessoas reais, com a natureza ou se volte para os próprios pensamentos tomando um café e praticando a atenção plena.

Faça uma pausa de 15min para cada hora de trabalho. Use as pausas para recarregar sua energia, você irá render muito mais se estiver com o espaço atencional renovado.

É importante ressaltar que as pausas permitem que você seja mais produtivo no todo. À medida que estamos acordados, nosso espaço atencional diminui, e as pausas fazem com que relaxemos, liberemos espaço e possamos voltar a nos concentrar de forma eficiente. Não se sinta culpado por fazer pausas, pois os estudos mostram que esse é o melhor caminho. Ironicamente, quanto mais ocupado estiver, mais precisará fazer pausas ao longo do dia.

Durma bem: o déficit de sono contribui para a redução de até 60% do espaço atencional. Quando dormimos permitimos que nosso corpo funcione da forma que deveria funcionar. Além disso, ao sonhar, as regiões ativadas pelo cérebro são as mesmas do foco disperso, porém de forma mais intensa, por isso várias ideias geniais ou músicas icônicas tiveram berço no sono de artistas e cientistas.

O sono REM é o foco disperso naturalmente turbinado do nosso organismo. Durante esse estágio do sono, ligamos informações por associação que não são pareadas enquanto estamos acordados. É também após um boa noite de sono que as informações são armazenadas na memória de longo prazo (e só podemos acessar informação se ela estiver armazenada).

Efeito Zeigarnik: lembramos mais das coisas que estamos trabalhando no momento do que aquilo que já concluímos. Algo como: nada parecerá tão urgente e importante quanto o problema que estamos pensando no momento.

Nosso cérebro está programado para trabalhar por associação. Quando uma pessoa é especialista em um assunto, ela acumulou pontos suficientes em experiência e conhecimento para fazer as ligações necessárias de forma rápida e intuitiva. Quanto mais sabemos sobre um assunto, menos espaço atencional é preenchido, é como se soubéssemos exatamente qual memória acessar, e fazemos o processamento de tudo muito mais rápido.

A definição de intuição pode ser essa: saber exatamente qual memória recuperar para cada caso, sem precisar de fazer um esforço consciente para resolver o problema.

O armazenamento do nosso cérebro é enorme, mas preenchemos ele de forma lenta ao longo da nossa vida. Nem tudo o que vivemos é armazenado (com raras exceções de pessoas com a chamada hipertimesia – ou memória autobiográfica extrema).

Quando você consome informação com a qual concorda, o cérebro é invadido por dopamina. Nosso cérebro é auto-viciente, por isso, cuidado com as bolhas e sempre busque desafiar seus conhecimentos e crenças. Questionar-se é uma boa prática para expandir a forma como você percebe o mundo e pode lhe trazer insights inusitados.

Enquanto levamos menos de dez horas para ler um livro, o escritor pode ter levado décadas para escrevê-lo. A obra pode conter lições de uma vida inteira. Livros dão acesso a pensamentos da mais alta qualidade e aos pontos mais úteis sobre praticamente qualquer assunto.

[contudo, cuidado com livros rasos. Nem todo livro é fruto de uma dedicação e compromisso com o leitor, e pode ser só uma tentativa de vender conhecimento barato]

Assim, para aumentar sua produtividade, você deve buscar consumir e reter informações úteis. Busque informações complexas quando estiver mais descansado (como livros ou artigos científicos). Em momentos de menor energia, recarregue as baterias com informações divertidas, mas mantenha a intenção no que será, de alguma forma útil para sua vida. [ eu particularmente gosto de preencher o tempo de lazer com leituras mais leves como romances, ou vídeos com assuntos não relacionados ao trabalho, como arquitetura e curiosidades científicas]

Consuma coisas que você goste, sobretudo quando poucas pessoas gostam delas

Consumir lixo inútil passivamente não acrescenta nada à sua vida. Pode parecer divertido, mas ficar horas nas redes sociais consumindo superficialmente não te ajuda a reter conhecimento (devido ao alto fluxo de informação, sem tempo para reflexão e absorção) e incentiva o vício a dopamina desenfreada.

Como incentivo por levar uma vida mais produtiva, adicione algo valioso para cada coisa inútil que eliminar. Tenha atenção ao que você busca quando está cansado e pergunte-se se algo está sendo acrescentado na sua vida ao consumir aquela informação. O autor não está falando que diversão não importa, mas ele frisa que devemos relaxar com intenção (ex prático: ao invés de se sentar na frente da TV e maratonar uma série sem fim, defina a priori por quanto tempo vai relaxar, quantos episódios verá, o que vai comer, etc.). As informações que você consome mais valiosas são aquelas que lhe desafiam e requerem de você sua atenção plena.

Ninguém é gênio à toa. Nas palavras do próprio Einstein: “Não tenho nenhum talento especial, só sou apaixonadamente curioso”. Mozart escreveu sua primeira sinfonia aos 8 anos, mas seu pai era rigoroso e provavelmente iniciou seus estudos com 2 anos e “trabalhou” 32 horas por semana (cerca de 4,5 por dia) chegou a 10k horas com 8 anos de idade, um expert em música.

O autor também não está “clamando” para que todos nós sejamos gênios, mas ele escreve, afinal de contas, sobre produtividade e quer ajudar cada um a chegar ao máximo potencial que cada um deseja para si. O mais importante é gastar suas horas com coisas que aumentem nosso sentimento positivo (só assim teremos motivação para continuar o trabalho). Pessoas felizes são mais produtivas porquê não ficam ruminando fracassos, elas entendem que a derrota faz parte do processo de aprendizado.

Finalmente, saiba a hora de empregar o hiperfoco e o foco disperso. Para o último, prefira quando temos menos energia, o que varia de pessoa para pessoa, mas há uma tendência geral de estarmos mais cansados no fim da manhã (~11h) e meio da tarde (entre 14h e 15h).

Cuidado com a alimentação, e faça uso das susbstâncias químicas a seu favor. Ingira cafeína cedo (lembre-se que ela atrapalha o sono e demora a sair do seu organismo). Você também pode até usar o álcool com moderação para ficar mais criativo (em um estudo participantes levemente bêbados foram mais criativos para resolver problemas de palavras cruzadas) – mas cuidado, pois o álcool diminui seu espaço atencional e dificulta o foco, por isso, reserve essa “tática” apenas para situações bem específicas.

Se trabalhar em ambientes abertos de trabalho, sabia que você será mais interrompido que o normal, se possível, molde o ambiente para o tipo de trabalho que você executa.

O segredo da produtividade está em uma boa administração: do espaço que você ocupa, dos alimentos que ingere, das atividades que você executa e da atenção que você dispõe para cada assunto. Ao fazer as coisas com intenção, você garante realizar tarefas com propósito, e pessoas com um propósito bem definido são mais felizes pois se sentem mais realizadas.

 

Use sua atenção com sabedoria

Esse livro foi bem leve e gostei muito de reforçar pontos e refletir ainda mais sobre o domínio do celular no meu comportamento, especialmente ao mantê-lo próximo enquanto interajo com meus filhos. A meditação é outro assunto recorrente, e ainda que não tenha agregado ela na minha rotina diária, a urgência de fazê-lo se mostra cada vez mais próxima com as leituras… vou deixar ela na gaveta por hora, mas pode virar meta 2025!

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