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Moneyball: o homem que mudou o jogo

O livro MONEYBALL (Moneyball The Art of Winning an Unfair Game), do autor MICHAEL LEWIS, é o tipo de livro que, quando buscado no google, os primeiros resultados dizem respeito a adaptação de hollywood com Brad Pitt.

 

Na verdade, eu vi o filme anos atrás, quando foi lançado e lembro de ter gostado bastante. Porém, em 2011, eu estava nos primeiros anos de faculdade e meu olhar para a matemática, estatística e probabilidades ainda era latente.

 

Agora, o livro acabou entrando em minha lista e foi uma leitura agradável nesse período de semana morta entre o Natal e Ano Novo. Diferente dos outros livros aqui já “resenhados”, nesse vou fazer uma estrutura diferente pois o livro é muito mais um “romance” que “técnico”.

Resumo

O autor é jornalista e passou um tempo em imersão com a diretoria e os jogadores do Oakland Athlectics (os A’s) para entender como um dos times com menor orçamento da liga conseguia tantas vitórias. O livro é uma ótima reflexão para o fato das pessoas olharem para clubes e enxergarem um meio para alcançar títulos e fama e não um negócio que deveria gerar lucro. No decorrer da leitura, fica claro que o diretor geral dos A`s, peça central do enredo, enxergava sua posição como um CEO que deve trazer lucro para o dono do time.

 

 

Um dos indicadores de Billy Beane para balizar seu sucesso no trabalho era o custo por vitória. Além de ser um time que se destacava pelo número de vitórias na temporada, diante do seu faturamento, seu custo por vitória era um dos mais eficientes de toda a liga. O custo por vitória dos A`s era de 500mil dólares a vitória por volta dos anos 2000. Uma franquia mais badalada, gastava 3 milhões por vitória! Poderiam não ter títulos como os ricaços Yankees ou Mets, mas, em matéria de gestão de dinheiro, eram um dos melhores.

 

O problema é que poucas pessoas viam isso. Afinal, estamos falando de esporte. E a torcida, a mídia e, por que não, o próprio ego da diretoria dos A`s deveria sentir, lá no fundo, um desejo insano pela vitória máxima. Nas notas finais do livro (reeditado que li), Lewis ainda conta como a publicação de seu livro mudou o beisebol após expor a visão probabilista e eficiente de Billy Bean e Paul DePodesta (o braço direito do diretor). Basicamente, em nada.

 

Na verdade, o que aconteceu foi uma polarização grotesca daqueles que não enxergavam como a aplicação de dados para tomar decisões faz uma diferença discrepante na eficiência dos times. Os olheiros, que populavam cargos nos clubes sentiam-se ameaçados (com razão) pelo estilo Beane.

 

Certamente, para um cientista de dados é inconcebível pensar que pessoas tomem decisões com base em observações feitas a olho nu (dos olheiros) sem qualquer registro de estatística. No entanto, era exatamente isso que era feito nos grandes times (e continuou, ou continua nos dias de hoje).Os times mantinham empregados uma legião de olheiros que julgavam garotos pelas sua atuação e, muitas vezes, pelo seu carisma, físico ou se simplesmente se o cara tinha “cara boa”.

Bem, agora estamos em 2020 (minha edição é de 2015), como será que as grandes ligas do beisebol têm reagido ao mundo que cada vez mais cobra por eficiência e bom uso da alocação dos recursos?

 

Beane saiu da direção do A`s em 2020, retirando-se do beisebol após dar ao time sete títulos com a segunda vitória mais barata (o primeiro lugar é do Tampa Bay Rays). Em sua passagem, fez mais de 300 trocas (de jogadores) em mais de 20 anos de liderança e foi essa sua característica de negociador que trouxe ao time a capacidade de se reinventar durante todos esses anos. Apesar de nunca ter ganho nos playoffs (aparentemente, o título máximo do beisebol), outros times, usando as probabilidades da maneira como Beane tão notoriamente passou a usar, conseguiram conquistar o campeonato. O próprio Beane chegou a declarar em 2018 para o Washington Post que agora o jogo mudara e times maiores começaram a adotar as análises estatísticas de maneira mais racional.

 

 

Algumas frases soltas...

Sobre os olheiros: sua função é acreditar no que vê e desacreditar no que não vê. Ele ainda não consegue se convencer a crer no que acabou de presenciar.

 

Movido por seus receios pessoais e pelos sonhos dos outros, dia a dia Billy Beane aumentava a diferença entre quem ele era e quem os outros achavam que ele deveria ser. […] Quando a gente para de querer imaginar o que os outros vão pensar, a gente se sai melhor.

 

O que é um erro? Essa é sem exceção a única grande estatística esportiva que consiste em um registro daquilo que o observador acha que deveria ter sido feito. É um juízo moral. Um juízo de opiniões. N beisebol, um erro consiste em não fazer a única jogada que o marcador considerava certa, assim, adiciona subjetividade e não deveria fazer parte de uma métrica. Assim, as estáticas mais comuns ao beisebol eram inadequadas e mentirosas, o que levava os administradores a tomar decisões errôneas. Mas não Billy Beane, que, baseado nos entusiasmado Paul DePodesta e os escritos de Bill James, escolheram métricas que eliminavam a subjetividade, e por isso eram mais confiáveis.

 

Bill James em um dos seus Abstract: vejo ali as coisas que as pessoas dizem e pergunto: é verdade? Você pode provar? Pode medir?

 

Sobre a opção do A’s de preferir jogadores universitários, e não “promessas” do ensino médio: O poder da análise estatística depende do tamanho da amostragem: quanto maior o volume de dados a disposição do analista, maior o grau de confiabilidade das conclusões que poderá extrair deles.

 

“O ônus de fazer feio e pior do que o bônus de fazer a melhor jogada. (O jogo oculto do beisebol). Essa frase nos recorda a máxima de que falhar, quando todos falham é mais reconfortante para a mente humana” (e mais bem aceito pela sociedade). “Ora, não deveríamos nos importar com os outros, e é isso que define as pessoas que realmente tem sucesso e são felizes. “

 

“Quando falamos de esportes (E acho que também de política), as opiniões convencionais sobre jogadores e as estratégias do esporte tinham adquirido a autoridade de fatores. E essa pressão sempre esteve na mesa da diretoria do A`s.”

 

“Quando um dos melhores jogadores do A`s foi vendido para outra equipe, muitas pessoas se perguntavam como a diretoria seria capaz de substituir um jogador insubstituível. A diferença entre a diretoria do A`s e da opinião pública em geral é que eles viam o time como um time. A pergunta não era como recriar o individual, e sim como recriar o conjunto. Quais eram as características que deveriam ser substituídas e como conseguir isso a um menor custo? Mais uma vez eles conseguiram, e mesmo sem seu astro, mantiveram a taxa de vitórias.”

 

“A vida com poucos recursos é cheia de pequenas concessões embaraçosas. O truque e saber exatamente quais concessões eram feitas”.

 

Muita gente toma decisões com base nos resultados. E não no processo. Se o processo está errado, não se pode fiar dos resultados. (Paul DePodesta).

 

Crise de fé: quando tem certeza, sempre acerta. Quando só tem esperança, nunca acerta. Agora ele só tem expectativas. Incapaz de reconhecer suas qualidades, ele é vulnerável ao argumento de que seu sucesso é um truque, um fruto do acaso ou um feitiço que pode ser quebrado a qualquer instante.

 

O Clube continua sendo estruturado como um clube social e não um negócio. Assim, quando alguém é incompetente ou fortunas são gastas de maneira errônea, ninguém liga muito (ao contrário de uma grande empresa)

Em resumo, o livro foi emocionante, mesmo sem entender nada de “andadas”, “rebatidas de sacrifício” ou “roubadas de base”, acompanhar a temporada do A`s foi mais um exemplo de como temos que usar nossa racionalidade para guiar nossas escolhas, e que não há racionalidade sem métricas.

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