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Os 7 hábitos das pessoas altamente eficazes

O livro OS 7 HÁBITOS DAS PESSOAS ALTAMENTE EFICAZES tem como autor Stephen R. Covey e foi publicado em 1989

Nessa leitura descobrimos verdadeiras lições de como sermos seres humanos melhores. O título do livro, apesar de parecer um clickbait (eu só o li porque recebi altíssimas recomendações) tem um conteúdo profundo e transformador.

 

Para quem nunca ouviu falar de Stephen, ele foi um grande estudioso que passou mais de 30 anos levantando ideias de outros autores sobre eficácia tanto nos negócios quanto nas relações humanas. Professor, dedicou sua vida a ensinar os hábitos e treinar pessoas (31 chefes de estado, entre eles quatro presidentes dos EUA!) e organizações a vive-los e praticá-los. Ou seja, ler as ideias de Covey e ignorá-las não me parece ser muito inteligente…

 

Por isso, vem comigo!

 

 

Abaixo, preparei um resumo completo da 91ª edição do livro que caiu em minhas mãos, incluindo o prefácio de Jim Collins.

Resumo

O autor dos 7 hábitos, Stephen Covey, reitera: ele não inventou nada, apenas ordenou ideias e as colocou no livro. Após uma vida estudando a literatura do sucesso e do comportamento, ele criou, ou melhor, elencou, princípios universais que devem ser colocados em perspectiva para que sejamos pessoas melhores.

 

Os hábitos nos ajudam a sermos melhores porque colocam em xeque nosso egocentrismo. Sua tese reforça a necessidade de sermos capazes de ouvir sem julgar, de orientar nossa vida a servir os demais e a entender que a verdade está nos olhos de quem a vê. Nossa cultura, nosso mundo líquido e voraz pede por uma iteração rápida, por relacionamentos superficiais e por uma vida que não se pode sustentar a longo prazo. Seguir Covey é seguir na contramão do mundo.

 

A Terra é um recurso finito. Por isso, devemos buscar o equilíbrio para produzir sem minguar nossos recursos, sejam eles naturais ou intelectuais. Nossa saúde mental também importa.

 

Assim, surgem 7 hábitos eficazes, para pessoas eficazes:

  1. Seja proativo
  2. Comece com o objetivo em mente
  3. Primeiro o mais importante
  4. Pense ganha/ganha
  5. Procure primeiro compreender, depois ser compreendido
  6. Crie sinergia
  7. Afine o instrumento

Os três primeiros hábitos estão focados no que o autor chama de “Vitória Pessoal” e podem ser resumidos como “seja íntegro, faça promessas e as cumpra”. Enquanto os hábitos 4, 5 e 6 enquadram ações tomadas junto a “Vitória Pública” do indivíduo e podem ser sintetizados pela prática de envolver os outros no problema e buscar uma solução em conjunto com todos os envolvidos. Finalmente, o último hábito está ligado com a máxima da melhoria contínua.

 

O autor enfatiza que nossa maneira de ver o mundo compõe um paradigma que foi formado pela nossa própria experiência de vida. Assim, em qualquer campo, somos moldados por nosso passado e ter consciência disso (das nossas limitações) é que nos ajuda mover para diferentes planos. Tentar verdadeiramente enxergar o mundo com os olhos do outro é que determina nossa eficácia em encontrar soluções melhores.

 

O primeiro hábito foca na proatividade. Quando um estímulo acontece, somos perfeitamente responsáveis por escolher uma resposta adequada a ele. Não temos controle sobre tudo e todos, mas temos um círculo de influência em que devemos focar nossas ações. Assim, devemos primeiramente usar nossos recursos e iniciativa própria antes de culpar os outros quando os resultados não saem conforme nossos desejos. A este círculo, temos responsabilidade de guiar pelos caminhos que consideramos correto.

 

Começar com o objetivo em mente é o cerne do segundo hábito. Devemos construir uma missão pessoal e, ter ela em mente todos os dias nos auxilia em compreender qual é a resposta correta que devemos fornecer para cada estímulo que recebemos do mundo. A missão deve ser centrada em princípios, em verdades imutáveis e não em torno de pessoas, cultos ou objetos.

 

No hábito 3 começamos a gerenciar nossa vida de maneira eficaz pois ele atesta “primeiro o mais importante”. Quando definimos nossa missão, temos um roteiro para nossa vida. Escolher como agir e quais tarefas priorizar torna-se “banal” pois agora sabemos o que é importante. Aqui, Stephen apresenta sua filosofia de divisão e gerenciamento do tempo em quadrantes, e que devemos sempre abordar a vida soba a ótica do Quadrante II, que prioriza tarefas importantes não urgentes alinhadas a nossa missão pessoal.

Pensar Ganha/Ganha (hábito 4) é melhor compreendido junto com o hábito 5, em que buscamos compreender primeiro. Ao procurar compreender as razões, necessidades e objetivos do outro, podemos ir em busca de acordos/transações vantajosas para ambos. Para compreender, devemos treinar nossa escuta empática e nos lembramos constantemente que, quando achamos que não há saída, com frequência, o problema está no sistema, e não nas pessoas. Ainda que estejamos “programados” para pensar que o problema é sempre o indivíduo (e de maneira geral, os outros), devemos expandir nossa lente e buscar as falhas no sistema para encontrar a alternativa que nos levará para um desfecho Ganha/Ganha. A abordagem de buscar a melhor opção para ambos os lados coloca a responsabilidade no indivíduo, que deve conquistar resultados específicos, dentro de parâmetros claros e recursos disponíveis. Assim, a pessoa se torna responsável pelo desempenho (liberdade vem com responsabilidade) e é capaz de autoavaliar e assumir as consequências.

 

O hábito 6 fala da busca pela sinergia, do trabalho em equipe independe da visão de mundo e alinha-se com a busca de gerar cada vez mais relações/transações do tipo Ganha/Ganha. Quando o nível de comunicação atinge a sinergia, temos o mais alto grau de CONFIANÇA entre as partes, e, por consequência, de COOPERAÇÃO. Só assim podemos chegar a uma terceira opção, mais eficiente e melhor do que as contempladas pelas partes individuais envolvidas.

 

Finalmente, o sétimo e último hábito entrelaça todos os anteriores, apontando que devemos buscar em nossas vidas a prática dos hábitos de maneira ininterrupta, que o aperfeiçoamento humano deve ser contínuo e que uma vida completa, repleta de significado deve ser vivida num crescendo (termo musical que indica uma música que é tocada cada vez mais forte e intensa).

 

Uma frase que vi em um pub Irlandês e me marcou resume bem essa ideia colocado por Covey em seu livro:

Prefácio

Jim Collins escreveu o prefácio da 25ª edição do livro, e ao chegar ao fim da leitura e reler o prefácio, percebi como ele sintetizou bem todo o conteúdo dos 7 hábitos. Para Jim, a maneira como Stephen expõe seu manual de sobrevivência garantiu a empregabilidade do método de maneira universal, pois Covey “criou” princípios universais que podem atingir a todas as idades de culturas.

 

Sua ênfase é na construção de caráter, e não no alcance do sucesso por si só. Por meio da disciplina e da prática dos hábitos canalizamos nossos esforços no que realmente importa. Todas as ações que um indivíduo pratica são motivadas por suas verdadeiras ambições. Uma organização é composta de indivíduos, assim, o sucesso de uma empresa necessita que seu CEO e que todo o corpo de funcionários esteja alinhado quanto aos objetivos da empresa e particulares de cada um. 

 

Passando ao prefácio do próprio Covey datado de 2005, o autor pontua que, apesar da grande mudança ocorrida no mundo desde a publicação de suas ideias com a transformação digital, os princípios continuam válidos e cada vez mais relevantes. As aflições humanas acentuaram-se e intensificaram-se no mundo do hoje, do agora, do EU. A grandeza, por outro lado, está associada a quem consegue enxergar o NÓS. Quem trabalha de maneira altruísta, com respeito mútuo e visando o benefício mútuo é o “segredo” revelado em seu livro.

 

Necessitamos da mudança de paradigma pois, nossa cultura humana popular contrasta com a maneira mais eficaz de conduzir nossa existência. O autor exemplifica o argumento no seguinte quadro em que apresenta sua ideia de ver o ser humano sobre quatro perspectivas:

CORPO MENTE CORAÇÃO ESPÍRITO
TENDENCIA CULTURAL
Manter o estilo de vida e tratar problemas de saúde com medicamentos/cirurgias
Entretenimento e voyerismo por meio de TV/jogos digitais/mídias sociais
Utilizar dos relacionamentos para atingir metas egoístas
Sucumbir ao secularismo* e ao ceticismo
PRINCÍPIO
Evitar as doenças com um estilo de vida saudável
Ler. Aprender de maneira contínua sobre diversos temas
Ouvir e servir ao outro
Reconhecer nossa necessidade fundamental de significado

*Gostaria de apontar que pelo contexto e pela forma de escrita de Covey, o uso do termo secularismo não está alinhado com o uso do mesmo termo em Além da Religião

 

O quadro sintetiza as ideias do autor que serão destrinchadas nas próximas partes do livro.

Primeira parte - Paradigmas e Princípios

DE DENTRO PARA FORA

No esforço de suas pesquisas, Stephen revisou mais de 200 anos de literatura sobre o sucesso. Para ele, os primeiros 150 anos estavam focados na Ética do Caráter, que significa ser uma pessoa íntegra, humilde, fiel, com coragem e senso de justiça. Uma pessoa paciente e diligente, simples e modesta. Ufa! Que simples ser uma pessoa de caráter não?

 

Já os últimos 50 anos estavam focados na Ética da Personalidade, que aborda o sucesso por meio da aplicação de técnicas de relacionamento (público e humano) e/ou atitude mental positiva. Essa abordagem tem um ‘quê’ imediatista e pontual. Alinhado com nosso mundo fugaz, os estudiosos publicaram páginas e mais páginas de habilidade de comunicação e estratégias de poder. As reflexões sobre quem somos ficaram de lado, o processo da evolução natural humano como indivíduo foi negligenciado. Por sorte, Stephen Covey se esforçou para apontar isso ao mundo e dizer que, quem SOMOS comunica com mais eloquência do que dizemos ou fazemos.

 

A Ética do Caráter e da Personalidade são paradigmas, isto é, são maneiras distintas de enxergar/interpretar o mundo. Todos devemos ter dois mapas em mente sempre:

  1.  Realidade: representação de como as coisas são
  2.   Valores: representação de como as coisas deveriam ser

Neste ponto, o autor exemplifica o problema do paradigma com a seguinte história: imagine-se perdido em uma cidade, com um mapa na mão. Se você acredita que tem o mapa correto da cidade em que está, facilmente pode se localizar. Porém, se o mapa que você tem nas mãos, apesar do título lhe indicar que tem o mapa certo, na verdade for de outra cidade, você continuará perdido. Não adianta se esforçar mais ou ter uma atitude mental positiva. O modelo (mapa) está errado!

Identificar que temos um paradigma “errado” é difícil. Envolve a prática da empatia (se colocar no lugar do outro), a quebra de costumes e muitas vezes um orgulho ferido.

Para complicar, no mundo complexo que vivemos duas pessoas podem ter paradigmas distintos e estarem certas. Como isso é possível? Ora, a interpretação tem várias facetas e nunca devemos assumir que a verdade é única e indissolúvel.

 

Todos nós pensamos que somos racionais e objetivos. São os outros que não estão sendo razoáveis. Sim, fatos existem. Não devemos relativizar tudo e aceitar qualquer opinião infundada. Contudo, devemos ter a consciência que todos nós somos susceptíveis a vieses e que nossa visão é moldada por experiências passadas. Nós vemos o mundo como nós somos, e não como ele é. 

 

A mudança de paradigma foi introduzida por Kuhn no livro Estrutura das revoluções científicas. Nele, evidencia-se que a evolução científica ocorre por meio da ruptura com a tradição. O exemplo de Copérnico talvez seja o mais emblemático, que postulou que o centro de nosso universo seria o Sol, e não a Terra.

 

Não devemos ser levianos e pensar que qualquer revolução (quebra de paradigma) leva a uma evolução. Como exemplo, o estudo e priorização da ética da Personalidade frente a do Caráter nos levou a um afastamento das raízes da felicidade e do sucesso verdadeiro. Tentar usar as técnicas enganosas da ética da Personalidade para atingir o sucesso é como tentar ir em algum lugar de Chicago usando o mapa de Detroit (exemplo do próprio livro).

 

Para entender que temos o mapa errado, precisamos aprender a ouvir os outros (talvez um passante poderia ajudar). Ouvir implica em ter a mente aberta e vontade para compreender o problema. Parte do problema está em como nós vemos o problema. Usar a força (física ou autoritária) para resolver nossa situação nunca é uma resposta válida, pois reafirma a dependência de fatores externos para conseguir resultados e breca o desenvolvimento humano (nosso e de quem aplicamos a força).

Em suma, devemos sempre começar por nós. E devemos buscar enxergar a realidade a partir de diferentes óticas.

OS 7 HÁBITOS - UMA VISÃO GERAL

O autor enfatiza que os hábitos não são dele. Ele apenas organizou as ideias, organizou conceitos e os elencou em uma ordem lógica.

 

Um hábito é a inserção de três dimensões: conhecimento, habilidade e desejo.

Nossa vida humana é marcada por uma sequência de desenvolvimento e amadurecimento físico, emocional e intelectual. Durante a infância, somos totalmente dependentes de alguém, à medida que crescemos, vamos adquirindo (e conquistando) independência e responsabilidade. Alguns, param por aí, imaginando que a independência é suprema e o bem maior a ser alcançado. Creem que a vida adulta se resume à capacidade de cuidar de si mesmo. Contudo, o verdadeiro amadurecimento ocorre quando percebemos que o sistema ecológico que governa a natureza e nossa sociedade depende da interdependência dos indivíduos.

 

A maior parte da literatura coloca a independência em um local de destaque, como se a comunicação, o trabalho em equipe e a cooperação fossem secundários em nossas vidas. É um culto ao egoísmo, ao egocentrismo. Quando compreendemos a interdependência, temos a autoconfiança necessária para entendermos que temos valor, mas que trabalhando em conjunto podemos alcançar metas maiores.

 

Os hábitos também são eficazes, isto é, nos conduzem ao melhore resultado possível no longo prazo.

 

O conceito de eficácia consiste no equilíbrio P/CP. P = Produção e CP é a capacidade produtiva. Um engenheiro de produção (eu, por exemplo) lhe diria que, para aumentar a produção a ênfase na eficácia preza pelos resultados (aumentar a produção). Contudo, você também deve ser eficiente, buscando gerir bem seus recursos. Isso não só significa extrair o melhor dos recursos, mas também visar pelo longo prazo. É o equilíbrio P/CP de Covey.

 

Os 7 hábitos transitaram sob esses conceitos e são melhor aproveitados quando praticados e compartilhados (palavras do autor). Ler esse livro tão no início do blog me motiva a seguir na produção dessas resenhas, que, ainda que extensas, me ajudam a consolidar o conhecimento e (espero) encontrar leitores ávidos por novas perspectivas de ver o mundo.

Segunda parte - Vitória Particular

HÁBITO 1 - SEJA PROATIVO

Mapas sociais são teorias que (tentam) explicar a natureza humana, atualmente, temos 3 teses:
  1. Determinismo genético: somos quem somos por causa no nosso DNA. Todas as nossas atitudes podem ser explicadas pelo código impresso em nossas células;
  2. Determinismo psíquico: a educação que recebemos e as experiências que passamos nos moldam e interferem na nossa personalidade;
  3. Determinismo ambiental: sempre alguém ou algo é responsável pela situação em que nos encontramos;
Todas essas teorias baseiam-se em um modelo relativo baseado em ESTÍMULO > RESPOSTA.  

Covey propõe uma quebra de paradigma: ESTÍMULO >> LIBERDADE DE ESCOLHA >> RESPOSTA   A liberdade de escolha é possível porque os seres humanos possuem algumas habilidades notáveis:
  • Autoconsciência: habilidade para pensar a respeito do próprio processo de pensamento
  • Imaginação: capacidade de criar
  • Consciência: noção se nossos pensamentos e ações estão de acordo com nossos princípios
  • Vontade independente: capacidade de agir livre de qualquer influência*

*Aqui, abro um parêntese sobre o que prega Stephen. Ele mesmo fala sobre como podemos ser influenciados em poucos segundos por técnicas de persuasão, imagens, etc. Nas leituras de economia comportamental (Rápido e Devagar e Misbehaving) vimos vários vieses que traem nossa racionalidade. Dessa forma, não consigo ver a vontade independente tão independente assim. Em uma autocrítica do que chamamos de Inteligência Artificial, por mais fascinantes que sejam, elas ainda não possuem capacidade de mudar sua própria programação. Nem ao menos têm consciência do programa. A PROATIVIDADE aparece como o primeiro hábito eficaz pois rompe com o paradigma das três teorias deterministas. Em todas elas a “culpa” é de outrem. Ser proativo significa ser responsável. Temos a capacidade de subordinar sentimentos aos valores, ainda que isso seja muitas vezes um desafio aparentemente impossível. Quando algo nos atinge, devemos usar nossos recursos e iniciativa. Não esperar nada de ninguém. O exemplo chave aqui é o de várias pessoas torturadas em campos de concentração nazista que não se deixavam abater pelas humilhações e danos físicos. Essas pessoas demostram que, por mais intransponível que a situação pareça ser, o poder da força do pensamento humano, o poder de se transpassar a dor, reside na liberdade de escolha da nossa resposta ao estímulo. Seja ele qual for.

Pessoas reativas são afetadas somente pelo ambiente físico. Pessoas reativas dizem “Eu preciso” (implica que um fator externo determine seu comportamento). Pessoas proativas dizem “Eu prefiro”. Assumem a responsabilidade sob seus atos/escolhas.

 

Amar é um verbo. As pessoas reativas o tornam um sentimento. Se nossos sentimentos controlam desenfreadamente nossas ações, perdemos nossa responsabilidade. Amar é algo que se realiza, são os sacrifícios, a atitude de atenção com o outro.

 

Problemas podem ser divididos em três categorias:

  1. Controle direto: envolvem nosso próprio comportamento
  2. Controle indireto: envolvem o comportamento do outro
  3. Controle inexistente: problemas em que não podemos interferir (atos passados)

Essa divisão pode ser bem sintetizada pelo lema máximo dos Alcoólicos Anônimos:

Certamente que não devemos esperar ter controle de tudo. Por isso, devemos focar nossa atenção (e preocupação) em nosso círculo de influência. O primeiro passo para a solução de um problema está a nosso alcance. É o famoso, faça sua parte, seja um exemplo para os que estão a seu redor e deixe sua ideia se espalhar organicamente… Concentrar esforços no que podemos mudar é o segredo para uma vida plena e feliz.

 

Importante: somos livres para escolher nossa resposta, mas não as consequências. Estas são inerentes de cada escolha e demos ser responsáveis por elas também. Diante de uma consequência não prevista, devemos assumir o erro, corrigi-lo no que for possível e, o mais importante, aprender.

HÁBITO 2 - COMECE COM O OBJETIVO EM MENTE

O início do capítulo inicia-se com uma proposta de reflexão profunda. Imagine-se em um funeral. Olhe a sua volta, todos ao seu redor são seus conhecidos, amigos, familiares, colegas de trabalho. As pessoas começam a falar sobre o falecido. Você percebe que estão falando de você. O que diriam? Você gosta do que ouve? Qual será a percepção de cada um que te rodeia sobre o seu caráter se você partisse dessa vida hoje?

Por isso, o hábito 2 prega que comecemos com o objetivo em mente. Nunca se sabe o dia de amanhã, certo? Ao mantermos isso em mente, cada escolha é facilitada, pois é orientada ao alcance do objetivo. Cada dia nos levará naturalmente ao alcance da nossa meta maior. Seja ela qual for.

Descobrir nossa meta é o que Covey chama de missão pessoal. São o conjunto de “regras” que definem quem somos (caráter) e o que fazemos (conquistas). Uma corrente de pensadores acredita que muitas doenças da mente são na realidade sintomas de uma sensação de vazio ou falta de significado.  Descobrir nossa missão, ou melhor dizendo, determinar nossa missão e ter ela de maneira clara é a chave para uma vida eficaz e com significado.

Certamente, não é um processo rápido. Deve ser feito com dedicação e preferencialmente de maneira periódica, para que seja aperfeiçoada e amadureça junto com nosso desenvolvimento pessoal.

Todos nós colocamos algo no centro de nossas vidas. O centro nos ajuda a definir nossa missão. Para ele, quatro dimensões permeiam o centro e equilibrá-las é que torna uma pessoa íntegra. São elas:

  • Segurança: senso de estabilidade emocional
  • Orientação: princípios que guia a tomada de decisão.
  • Sabedoria: capacidade de julgamento/discernimento
  • Poder: capacidade de agir

Em sua descrição dos centros, Stephen identifica centros, não ideais, para orientar nossas vidas. Muitos indivíduos oscilam entre vários centros, a depender do momento de vida. Sem uma orientação consistente deixamos de viver nossos valores para viver o valor dos outros. Os centros mais comuns são:

  • Centro no cônjuge: dependência emocional extrema, onde os parceiros esperam do outro a iniciativa do amor, com orientação baseada em emoção;
  • Centro na família: senso de segurança baseado na tradição
  • Centro no dinheiro: segurança econômica, decisões baseadas exclusivamente na renda
  • Centro no trabalho: identidade fundamental derivada do trabalho (sou engenheiro)
  • Centro nos bens: sejam eles tangíveis (posses) ou intangíveis (popularidade)
  • Centro no prazer: abuso indisciplinado dos momentos de lazer e ócio
  • Centro nos amigos/inimigos: sensação de pertencimento a um grupo distinto (único), sem segurança interna própria
  • Centrado na igreja: considera a igreja um meio para atingir um fim. Ativa na comunidade mas passiva nos preceitos que seu próprio culto prega;
  • Centrado no eu: egoísmo

Quando vamos em busca de nossa missão pessoal, centramos nossa vida em princípios imutáveis. Princípios são verdade profundas. Não se irritam, não nos tratam mal. Enfim, permitem que assumamos responsabilidade por nossas vidas (hábito 1) pois nossas decisões buscam embasar-se nos princípios e não nos sentimentos do agora. Tornam nossa existência eficaz pois passamos a interpretar todas as experiências de vida como uma oportunidade para aprender e contribuir.

 

Uma vez compreendido que podemos centrar nossa vida por diferentes óticas, devemos buscar redigir (sim, escreva!) uma missão pessoal que esteja dentro do nosso círculo de influência (pois assim mantemos nossa responsabilidade proativa) e que seja centrada em princípios, não em outros núcleos. Não queremos colocar nossa primeira criação na mão dos outros.

 

Isso mesmo, você leu corretamente. Primeira criação. Segundo o autor todas as coisas são criadas duas vezes. Primeiro há a criação mental e depois a criação física. Assim, sempre busque trabalhar com ideias, exercitar a imaginação para criar imagens claras do que queremos construir. Quanto mais nítida a imagem, melhor.

 

A busca da missão deve ser feita no exercício da primeira criação, expandido nossa perspectiva (os óculos que usamos para ver o mundo) por meio do uso da imaginação. Quando projetamos situações em nossa mente, quanto mais rico de detalhes é a situação, melhor para redigirmos um roteiro de ação que esteja em harmonia com nossos valores. Praticando isso, dia a dia, começamos a perceber a mudança de comportamento em nossa postura. Deixamos de atuar segundo nossa herança genética, o ambiente em que estamos inseridos ou as expectativas sociais. Agimos conforme o roteiro que escolhemos.

 

Gerenciar é aplicar métodos. Liderar é a busca de objetivos. Assim, a liderança está alinhada com a primeira criação, pois busca por determinar o que é certo. Só depois de determinado o objetivo é que se pode gerenciar as metas. A armadilha do gerenciamento sem liderança gera descontrole. Como pais que se preocupam mais em fazer com que os filhos sigam as regras, ao invés de apontar os caminhos/motivos do porquê aquela regra é importante.

Famílias e organizações são mais eficazes quando têm uma missão. Mais do que isso, quando a missão é escrita por todos ela gera comprometimento. Quando envolvemos todos os nossos funcionários, todos os nossos filhos na busca de uma missão de grupo, identificamos o que é importante para cada um e agregamos isso à cultura. No caso de empresas, conseguimos identificar se alguém não está alinhado aos valores da empresa, e promovemos os que estão. A missão é a constituição que rege um país. Ela guia todos os nossos atos. Não é preciso de um fiscal para os funcionários, nem para os filhos. Eles saberão como agir.

HÁBITO 3 - PRIMEIRO O MAIS IMPORTANTE

O hábito 3 é uma consequência natural dos hábitos 1 e 2. É o exercício da vontade independente. No capítulo anterior o autor afirma que gerenciar é aplicar métodos e liderar é buscar pelos objetivos corretos. Assim, um gerenciamento eficaz significa fazer o que é mais importante e liderar resolve o que é mais importante. Dessa maneira, o verdadeiro desafio não está na gestão do tempo (nosso recurso mais precioso), mas em gerenciar a pessoa. Somo nós, indivíduos, que decidimos o que é importante para nós. Somo nós que damos prioridades.

 

As coisas urgentes se impõem a nós rotineiramente. As importantes, por outro lado, estão ligadas aos resultados. Algo importante contribui diretamente para nossa missão pessoal. Nós reagimos ao urgente. Precisamos agir (precisamos de proatividade) para realizar o importante.

 

 

Quando administramos as crises conforme elas chegam, gastamos nosso tempo com tarefas urgentes ou não importantes. Observe a matriz de gerenciamento do tempo proposta no livro (abaixo). Pessoas eficazes buscam aumentar o tempo gasto em tarefas do quadrante II, limitam o tempo do quadrante I e ficam afastadas o máximo possível das tarefas não importantes (QIII e QIV), sejam elas urgentes ou não.

URGENTE NÃO URGENTE
IMPORTANTE
Quadrante I
Quadrante II
NÃO IMPORTANTE
Quadrante III
Quadrante IV

Quando você gasta mais tempo no QII, percebe que o QI reduz naturalmente. Isso ocorre porque você irá trabalhar nas crises antes que aconteçam, antecipando o trabalho e sempre lembrando da regra de Pareto 80/20! (80% dos resultados vêm de 20% das atividades)

 

Parar de passar tempo resolvendo coisas não importantes exige uma habilidade de dizer não.  Eu diria que tenho uma facilidade de dizer não para as pessoas, mas preciso melhorar na sutileza com que faço isso. Covey colocou pontos de atenção para darmos um não com delicadeza:

  1. Seja corajoso
  2. Seja educado
  3. Sorria
  4. Não se desculpe
  5. Agradeça pelo convite/proposta

Se o “convite” é uma “ordem imposta do chefe” uma boa abordagem é sempre ter em mãos uma planilha com os projetos e prazos resumidos que você está tocando. E pedir para o “dono do pedido” apontar qual projeto deve ser adiado/cancelado para atendermos ao mais novo pedido urgente. Assim, nos “livramos” de ficarmos sobrecarregados de tarefas e, se de fato *para o chefe* o incêndio é importante você pode resolver o problema com a consciência limpa.

 

Quando falamos de gerenciamento de tempo, devemos lembrar que na vida exercemos vários papéis. Queremos uma vida centrada em princípios, e manter esses princípios nos papéis que desempenhamos como filhos/pais/conjugue/amigos/chefe/funcionário requer uma dedicação de tempo de quadrante II em cada um desses papéis.

 

O autor sugere que, assumindo que você executou a tarefa do hábito 2 em escrever sua missão pessoal, agora “desenhe” essa missão para cada um dos papeis que você deseja exercer em sua vida. Defina as metas de longo prazo para cada um dos papéis e depois resultados de curto prazo (por exemplo, na semana) que devem ser obtidos para que a meta central se realize. Preencha sua agenda com essas tarefas (o que deve ser feito para alcançar o resultado).

 

Para quem tem problemas com a gestão de tempo, são indicações valiosas que, após definir o que é importante (de forma macro, na missão) e depois detalhar semanalmente, você pode perceber que tem mais tempo do que imagina para as outras coisas.

É importante ressaltar que um planejamento é um plano a ser seguido. Um plano existe para nos dar direção. Imprevistos acontecem e devemos calibrar nossas expectativas para que a frustração não tome conta de nossas emoções. Devemos nos manter flexíveis, sabendo o que é importante temos sabedoria para distinguir as tarefas que devemos passar mais tempo para alcançar nossa missão pessoal.

 

 

Outro ponto importante a ser abordado é a importância da delegação de tarefas. Muitas pessoas acreditam que é uma perda de tempo pois passam mais tempo explicando, ou que, se elas mesmas executam, podem fazer melhor. Delegar poderes é um forte motor para o crescimento pessoal (tanto próprio tanto de quem recebe a tarefa/poder). A delegação de poder multiplica a produção e por isso aumenta a eficiência. Para delegar poder devemos reconhecer a capacidade de autoconsciência e imaginação dos indivíduos. Devemos deixar de lado nossos automatismos de dar ordens.

Stephen chama isso de delegação administrativa, pois está centrada nos resultados e não no método. Dando liberdade na escolha do método, você delega poder. Especificando o resultado desejado de maneira precisa, você delega responsabilidade e gera engajamento. Se conhecemos os melhores caminhos, podemos indicá-los, principalmente se sabemos o que não dará certo (sempre explicando o porquê). Isso acelera a curva de aprendizado.

 

Ainda sobre delegar, devemos ser específicos quanto as consequências de não atingir os resultados esperados, qual a frequência do acompanhamento e quais recursos a pessoa pode utilizar (se for um gerente, quais pessoas, se for seu filho, quais ferramentas ele pode usar para varrer o jardim). Quando delegamos poder, com métricas claras e consequências objetivas, transmitimos confiança à pessoa. E não há forma mais elevada de motivação humana que a confiança.

 

Como tudo na vida, devemos balancear nossas ações em busca de um equilíbrio. Com pessoas mais imaturas, passaremos tarefas menores, métricas mais específicas e com um acompanhamento mais próximo. À medida que ela ganha desenvoltura, vamos dando a liberdade (conquistada), com uma moldura mais ampla.

Terceira parte - Vitória Pública

HÁBITO 4 - PENSE GANHA-GANHA

A vitória pública não significa a vitória sobre as pessoas, e sim o resultado do trabalho em conjunto e cooperativo entre todos. Quando o autor descreve o pensamento do tipo Ganha/Ganha como o hábito 4, ele o descreve como um estado de espírito que busca o benefício mútuo de maneira constante. Não se trata de vencer, se trata de alcançar o melhor possível para todos.

 

A linha de pensamento mais comum é que um lado sempre sai perdedor. Isso se dá principalmente na nossa sociedade que compara insistentemente uns com os outros, de maneira especial nos núcleos familiares em que pais comparam irmãos. Quando o amor é manifestado de maneira condicional (só te amo se você tira boas notas, etc) o que está sendo comunicado é que a pessoa não tem valor intrínseco. 

A solução para esse problema é a quebra do paradigma tradicional de compararmos pessoas com outras pessoas. Devemos avaliar o potencial de cada um com o uso total de sua capacidade atual.

 

Se um filho tira uma boa nota sem estudar, será mesmo que a nota foi boa? Se um filho tira uma nota ruim mesmo tendo se dedicado, não deveria ser valorizado por seu esforço? Não deveríamos focar nossas forças em encontrar a raiz do problema antes de fazer comparações desnecessárias?

 

O pensamento Ganha/Perde orienta as pessoas a buscar a vitória sob os outros. É preciso que o outro perca a batalha (que batalha?). Já os pensadores Perde/Ganha são excessivamente passivos, concedem o tempo inteiro devido sua insegurança pessoal. Ainda existem ações que podem ser definidas como Perde/Perde, em que o foco é o inimigo, e ambos saem “perdendo a disputa”.

 

É claro que o pensamento Ganha/Ganha não é imutável. Se estamos em uma partida esportiva, de fato, queremos ganhar. Mas, se estamos em um relacionamento, seja ele pessoal ou de negócios, devemos estar focados no longo prazo, por isso a alternativa Ganha/Ganha é a melhor opção. Qualquer opção que leve a uma “vitória” em um relacionamento em curto prazo é traduzida como uma derrota para ambos os lados no longo prazo.

 

A melhor forma de entendermos o ponto de Covey é através de um exemplo. Quando falamos de negócios, as pessoas no geral tendem a aceitar facilmente um relacionamento Ganha/Ganha com o cliente. Se elevamos nossa margem de lucro a preços absurdos, o cliente se sentirá explorado e não é fidelizado. Se fornecemos um preço ajustado ao serviço prestado, ganhamos a clientela. O pensamento padrão para fornecedores é invertido! Muitas empresas agem com descaso para com os fornecedores, apertam suas margens e exigem prazos impraticáveis. Ora, se você é o cliente do fornecedor, porque a relação de Ganha/Ganha também não pode ser vislumbrada?

 

Outro ponto a ser colocado é do pensamento “Nada feito”. Apesar de não ser a situação ideal, o autor a coloca como uma alternativa mais viável que qualquer outra direcionada para a “perda”. Assumir que é possível não fechar nenhum tipo de acordo é libertador, pois na realidade fortalece os laços e os compromissos entre as partes.

A maturidade humana está na “habilidade de expressar sentimentos e convicções de modo a considerar os pensamentos e emoções das outras pessoas”, segundo um professor da Harvard Business School, Hrand Saxenian. Para mim, essa frase se traduz em empatia. Quando somos empáticos e conseguimos enxergar sob a ótica do outro, aumentamos a chance de vislumbrar um desfecho do tipo Ganha/Ganha. Para isso, precisamos praticar as virtudes de ouvir atentamente e discordar corajosamente. Assim, tendo consideração com o outro e muita coragem para expor todos os pontos é que conseguimos chegar no acordo mais eficaz.

 

Quando um acordo Ganha/Ganha acontece, cinco elementos se destacam:

  1. Resultados desejados: é identificado o que deve ser feito e quando
  2. Diretrizes: são os parâmetros que especificam se o resultado obtido está dentro do desejado;
  3. Recursos: evidencia-se quais recursos devem ser utilizados (financeiros, humanos e materiais)
  4. Administração: define o padrão de desempenho e tempo da avaliação
  5. Responsabilidade: o que acontece se resultado não é obtido

Me chamou a atenção por ele escrever no ponto 4 o tempo de *avaliação* e não de *execução*. De fato, faz total sentido uma vez que estamos discutindo hábitos, estamos falando de ações que ocorrem de maneira recorrente. Lendo os 5 pontos acabei “ligando pontos” com as várias metodologias de gestão de projetos e pessoas que trabalham com prazos e tarefas. Essa sessão serviu como um alerta da necessidade de “controle” dos resultados, e não dos métodos.

 

Stephen exemplifica a tarefa que deu (em acordo mútuo) ao filho de 7 anos de cuidar do jardim. Quando a diretriz está bem definida (manter a grama verde e limpa) e a administração (o pai) define o tempo de avaliação segundo a necessidade da tarefa (uma vez na semana) não é necessário o controle da pessoa (o filho). Até seu filho de 7 anos era capaz de se autojulgar que não estava cumprindo a tarefa e pedir ajuda. O foco é o resultado, não o método (essa frase é o core da gestão Ágil!)

 

Assim como os hábitos anteriores, o hábito 4 não é fácil ou surge de maneira natural/espontânea. Ele deve ser praticado e fomentado conscientemente por nós. Para isso, o autor resume o passo-a-passo para atingir um resultado Ganha/Ganha

  • Ver o problema do ponto de vista do outro
  • Identificar as questões chave e as preocupações (não posições de poder ou “lados”) envolvidas
  • Determinar os resultados aceitáveis
  • Identificar as novas opções possíveis que busquem atingir os resultados

HÁBITO 5 - PROCURE PRIMEIRO COMPREENDER, DEPOIS SER COMPREENDIDO

Este hábito é essencial para quebrarmos o paradigma humano de sair dando conselhos sem antes ouvir empaticamente nosso interlocutor. O autor inicia esse tópico com uma observação que me chamou a atenção pois nunca tinha visto essa abordagem: comunicar é a habilidade mais importante da nossa vida. Assim como a leitura e a escrita são formas de comunicação que treinamos insistentemente desde uma tenra idade, a fala e a escuta também são vitais para a compreensão humana. Contudo, nem de longe são praticadas com o mesmo afinco.

 

Aprendemos a imitar sons desde pequenos. Quando nossa coordenação motora melhora, iniciamos a escrita e a leitura vem logo em seguida. À medida que crescemos, as leituras ficam mais complexas (e falhas no nosso ensino criam inúmeros analfabetos funcionais). Mas não há treino formal para saber ouvir. O diálogo para aprendermos a ouvir com empatia é ainda mais escasso.

 

A maioria das pessoas ouve com a intenção de responder, e não de compreender. Essa afirmação de Covey toca o cerne do problema da escuta empática. Quando focamos nossa atenção em nossa resposta, deixamos a empatia em segundo plano. Podemos não fazer por mal, às vezes só queremos ajudar. Mas nossa ânsia em dar conselhos captura nossas experiências anteriores (e não do interlocutor), seleciona o que ouvimos e fornece um diagnóstico da situação limitado.

 

Apenas 10% da nossa comunicação é representada por palavras. 30% é transmitido pela entonação e 60% pela linguagem corporal. O livro foi escrito antes da pandemia em um período que o trabalho virtual não era tão comum. Me pergunto como a eficiência das mil reuniões que participo dia-a-dia receberia um booster se todos ligassem suas câmeras…

 

Para praticar a escuta empática, é necessário parar de praticar a escuta autobiográfica, em que presumimos sentimentos e motivações do interlocutor com base em nossas próprias experiências. Precisamos compreender de fato o interlocutor, só assim podemos julgar corretamente. Entendendo (e demonstrando que entendemos) suas reais preocupações e necessidades ganhamos a confiança de quem interage conosco (seja um cliente, fornecedor, parceiro ou filho(a)). A escuta autobiográfica é marcada de 4 “erros” clássicos:

  • Avaliação: aprovamos ou desaprovamos de início o que está sendo dito
  • Investigação: fazemos perguntas o tempo inteiro
  • Aconselhamos a partir da nossa própria experiência
  • Interpretamos as motivações da pessoa a partir de nossas próprias motivações

Para praticar a escuta empática, devemos quebrar essa postura de nos colocar no centro de tudo. Para isso, podemos nos fazer valer de técnicas que nos auxiliam a ter um diálogo mais enriquecedor com o interlocutor:

  • Repetição do conteúdo dito
  • Reestruturação do conteúdo
  • Reflexão do sentimento
  • Deixar que a pessoa chegue à solução do problema em sem próprio ritmo

Esta sessão do livro repete várias vezes um diálogo entre pai e filho para ilustrar como cada um dos pontos molda o ritmo e o rumo da conversa e não será transcrita aqui. A essência da escuta empática é capturada pela frase que define o hábito 5: procure primeiro compreender e depois ser compreendido. Fazer da escuta empática nosso default exige prática para que se torne de fato um hábito.

 

O hábito de compreender primeiro para depois ser compreendido também alerta para nossa própria forma de nos expressarmos. Quando buscamos expor nossas ideias tendo como foco nosso interlocutor, aumentamos nossa taxa de sucesso. A chave está em entender as preocupações e motivações do interlocutor e moldar nosso discurso para abordar nossas ideias sob essa ótica. Se queremos ser ouvidos temos que fazer um discurso eficaz, o que significa estar orientado ao nosso público alvo.

 

HÁBITO 6 - CRIE SINERGIA

Este capítulo não foi tão “revelador” quanto os demais. Talvez por ser um processo difícil de recriar, senti que Stephen teve mais dificuldade em definir o hábito 6. As primeiras páginas são dedicadas a dizer como a sinergia é importante para nossas vidas e o quão excitante ela é.

 

Demorou um pouco para “engatar” conceitos menos vagos, mas o autor chegou lá.

 

O que é sinergia? É a habilidade de criação que surge quando trabalhamos em equipe. Indo além do que escreveu Ray Dalio (mesmo porque, Ray Dalio escreveu seus pensamentos após o Dr. Covey, e provavelmente tirou muitos de seus insights a partir dos 7 hábitos), aqui nosso autor muda a equação para uma inequação matematicamente falsa mas que no âmbito humano é alcançada com o “uso” da sinergia.

1 + 1 > 3

Quando li o trecho da visão do autor sobre a prática da sinergia pelas novas gerações não deixei de pensar com tristeza quanto ao rumo que a sociedade tomou. Ele acreditava que ela (a sinergia) poderia nos levar a uma geração menos egoísta, menos antagônica e mais aberta. Menos possessiva e crítica e mais dedicada em servir/contribuir com o mundo. Essa era a visão de Covey quando publicou seu livro em 1989. Hoje, já passamos da famosa “década da virada do milênio”. Entretanto, o mundo (especialmente o Brasil) vive dias tenebrosos… seguramente somos mais livres, mais abertos, mas a polarização se tornou um movimento perigoso, na contramão desse mundo sinérgico onde todos escutam, compreendem e aceitam.

 

A sinergia é oposta à polarização. Ela é a “força” que faz com que as pessoas trabalhem juntas mesmo com visões opostas de mundo. Conhecer a visão do outro (escutar com empatia) e buscar a verdadeira compreensão nos leva a enxergar possibilidades que antes não estavam postas na mesa do jogo. Quando uma equipe é sinérgica, em fase de discordância, o que acontece não é apenas um movimento de defesa da opinião, e sim uma busca pela compreensão do ponto de vista do outro.

 

Uma pessoa realmente eficaz deve admitir que o seu mapa mental do mundo não é a única representação válida. Que todos temos nossas limitações e que nosso paradigma sempre conterá falhas. Por isso, devemos buscar complementar nosso mapa com mais informações, com a contribuição de outas pessoas que possuem visão, experiência e necessidades distintas das nossas. Para isso, precisamos nos comunicar com eficiência e reconhecer nossas diferenças de percepção. Quer o mundo não se resume à dicotomia do eu versus você.

1 + 1 = 1/2

Quando praticamos a sinergia buscamos a terceira alternativa. Aquela que não existia antes da compreensão mútua. A sinergia gera soluções melhores através da transformação. O budismo chama isso de “caminho do meio”, porém, não com a conotação do compromisso de ceder, mas sim de buscar algo mais alto, como o ápice de um triângulo.

 

Para finalizar as reflexões do capítulo, ao pensarmos em sinergia não devemos nos restringir em nossas relações humanas com os outros, mas também em nosso próprio pensar. A sinergia psíquica é a capacidade de utilizarmos ambos os lados do cérebro. Devemos buscar a lógica e a racionalização dos problemas com o lado esquerdo sem abandonar nossa criatividade e intuição do lado direito. Somos seres lógicos e emocionais. Quando vemos apenas duas alternativas (a nossa e a “errada”) devemos recorrer ao nosso lado direito, buscar empatia e compreensão e depois voltar ao esquerdo, para usar a lógica e encontrar a terceira opção. “Acredite, assim como o paradigma das negociações ganha/ganha, ela certamente existe”.

HÁBITO 7 - AFINE O INSTRUMENTO

Pessoas eficazes não permanecem altamente produtivas se não acompanham as mudanças do mundo e buscam a melhora contínua. Por isso, o último hábito dedica-se a explicitar a necessidade de buscarmos nossa renovação diária nas quatro dimensões da natureza:

  • FÍSICA: exercício, nutrição, cuidados com o estresse
  • SOCIAL/EMOCIONAL: ajuda, empatia, sinergia, segurança interna;
  • ESPITIRUAL: clareza de valores e envolvimentos, estudo e meditação;
  • MENTAL: leitura, visualização, planejamento, escrita.

A melhora contínua, ou afinar o instrumento, é um hábito. Portanto, deve ser exercido com regularidade e consistência, de forma equilibrada e sensata. É extremamente difícil afinar o instrumento pois é uma tarefa do Quadrante II, que exige proatividade (hábito 1) e coragem para deixar de lado os incêndios do dia a dia que abarrotam o Quadrante I.

 

O livro discorre sobre várias situações que envolve a mente, nossas ações quanto a diversas situações no plano de desenvolvimento social. Aqui, o autor chama a atenção para a necessidade de cuidarmos também do nosso corpo, executando exercícios diariamente que visem melhorar nossa RESISTÊNCIA, FLEXIBILIDADE E FORÇA.

 

A dimensão social/emocional significa trazer os 7 hábitos para o nosso dia-a-dia e influências as pessoas dentro do nosso círculo de influência. Praticar os hábitos e explicitá-los para os outros aumenta nosso poder de persuasão, nos torna mais eficazes quando trazemos as pessoas para trabalhar junto nos problemas e achar a terceira opção gerando cada vez mais transações do tipo ganha/ganha.

 

No plano espiritual, o Dr. Covey nos recorda na necessidade de termos clareza quanto a nossa missão pessoal e de nossos diversos papéis. A revisitação de nossa missão provoca a melhoria e apesar de ser indicado fazê-la com mais afinco anualmente, é uma atividade que deve ser relembrada também diariamente.

A dimensão mental é fortalecida principalmente pela leitura e pela escrita. A leitura expande nosso conhecimento cultural. “A pessoa que não lê não está em melhor condição do que a pessoa que não sabe ler”. Aqui, o autor ainda chama a atenção para o tempo de televisão, que é extremamente limitado em sua moradia e eu adicionaria para o tempo que passamos em redes sociais com “conteúdo” raso e que não acrescenta muito em nosso desenvolvimento pessoal. Já a escrita, é importante para autorreflexão e para desenvolvimento do pensamento crítico, coeso e embasado. Textos longos são cada vez mais incomuns em um mundo que se cerca de redes sociais focada em imagens bonitas e textos de 140 caracteres. As ideias, as descobertas e projetos mais desruptivos, precisam de espaço de discussão e muitas (muitas) páginas para amadurecerem e se concretizarem.

 

Os hábitos são baseados em princípios que nunca dominaremos totalmente. Quanto mais praticamos suas virtudes, mais compreendemos o quanto ainda há espaço para melhorar.

 

Nossas atitudes são o exemplo que transmitimos para os outros dos nossos valores. O quanto de nossos reflexos influenciam a vida dos que nos cercam e até daqueles que não conhecemos. Até onde nossas decisões de consumo, de estratégia empresarial, de diálogo com nossos filhos, da doação de tempo a uma causa moldam nossa vida, e de todos os outros habitantes desse planeta (humanos ou não)?

A vida acontece em um plano. Cabe a nós construirmos um movimento espiral e ascendente para extrair (e criar) o que de melhor e mais fantástico nossa mente consegue sonhar. Aprendizado, dedicação e ação. Portanto, aprenda, dedique-se e haja. O mundo tem sido povoado por seres humanos que buscam atalhos, nas palavras de Covey: “querem amar sem compromisso, ficar magros e comer bolo. Em outras palavras, querem as recompensas do bom caráter sem ter bom caráter”. Não há escadas na espiral do sucesso real, que toca pessoas e transforma o mundo. Há a consciência de nossa pequenez e da necessidade do aprimoramento constante.

Covey viveu sua espiral crescente e tinha em mente que o trabalho mais importante que faria estaria sempre à sua frente. Quando faleceu em 2012 estava à frente de mais de 10 projetos ambiciosos. Assim, ele demonstrou que a motivação mais poderosa e nobre não se encontra em nós e no curto espaço de tempo que habitamos esse planeta, e sim na posteridade de toda a humanidade.

 

Nas páginas finais, o autor coloca um ditado popular (que eu não conhecia) com a qual me identifiquei tanto como filha como mãe, e certamente levarei essa frase para sempre:

 

 

Essa leitura foi incrível e através das verdades óbvias me fez refletir cada escolha e principalmente como me comunico com as pessoas ao meu redor. Espero com essa resenha poder voltar a seus conceitos sempre de maneira rápida, e eventualmente reler o livro completo pois a cada leitura sei que o impacto em mim será diferente.

 

 

E você, o que achou dos 7 hábitos?

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