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Princípios

RAY DALIO é direto e elenca seus princípios em tópicos durante todo o livro. É um livro extremamente denso. Não por ser complexo, mas pela quantidade de informação que recebemos de como Ray pensa sobre a própria vida, suas ações e seus princípios. São mais de 200 princípios! O próprio livro resume os princípios em tópicos, mas aqui tentei condensar os comentários gerais sobre cada parte.

 

Então… vem comigo!

 

Abaixo, preparei um resumo bem rápido do livro, e você pode também olhar o site oficial com material disponível para enriquecer o aprendizado.

Resumo

Nas palavras do autor, princípios são a base que guiam o seu comportamento, por isso, os princípios que você segue revelam quem você é. Seguir seus próprios princípios nas situações do dia-a-dia ajuda você a conquistar seus objetivos. Assim, para seguir os seus princípios você deve ter sempre em vista:

 

    1. O que você quer
    2. O que é certo
    3. O que fazer para atingir (1) tendo em vista (2)

Esses três passos fundamentais são a base para todos os demais princípios. A fonte do sucesso é continuar buscando (3) diante do fracasso, quando se tem um objetivo claro e se é íntegro, continuar a lutar é algo natural. Uma palavra importante de um dos maiores gestores de fundos americanos: não coloque o dinheiro como meta. Não é o valor monetário que tem importância, e sim o que se pode adquirir com ele. E nem tudo se compra com dinheiro.

 

Na primeira parte do livro Dalio destaca a importância do autoconhecimento, não só do nosso eu do presente, mas do passado nosso e de tantos outros seres humanos que já viveram, erraram e triunfaram. Devemos aprender com os nossos erros e dos demais. Mas, mais importante, devemos reconhecer (e aprender a superar) nossas fraquezas.

 

A segunda parte contém os princípios de vida do autor, distribuídos em tópicos numerados e com comentários subsequentes. Neste resumo tentei trazer os principais pontos que me chamaram a atenção, como o conceito de hiper-realismo (uma fuga ao lugar comum do otimista e pessimista) e a ótica de encarar tudo sobre um ciclo PDCA (Plan, Do, Chec,k Act) de melhora contínua não apenas no trabalho, mas na vida pessoal também.

 

A última parte do livro dedica-se aos princípios do trabalho, que se mesclam com os de vida em vários aspectos. Além dos discursos de abraçar os erros e de ser verdadeiro quanto a todos os seus objetivos, a mente aberta e a colaboração aparecem como palavras chave em vários de seus princípios para gerir uma organização de sucesso.

 

Veja abaixo em detalhes os trechos que destaquei para cada uma das partes do livro PRINCÍPIOS.

Parte I - De onde venho

Para entendermos melhor seus princípios, Dalio compartilha com detalhe e sinceridade o caminho que percorreu para chegar onde chegou. Como ele mesmo pontua, nós não nascemos prontos e ainda que tenhamos capacidade intelectual nata, a capacidade de tomar decisões vem a partir da própria experiência ou da troca de experiências com outros seres humanos. Identifique o que você quer e busque mais do que inspiração em outros que já conquistaram, busque identificar padrões de causa e efeito que geraram o sucesso para que você estabeleça quais regras devem guiar as suas próprias decisões.

 

Saber o que aconteceu no passado nos ajuda a compreender melhor o presente e tomar decisões melhores. A partir desse conhecimento você pode construir seus valores (o que você acha que é importante) e decidir seus princípios (conjunto de regras). Seguir as regras garante que você seja consistente. Escolher os princípios corretos (que estejam alinhados ao seu objetivo) garante o seu sucesso.

 

Refletir sobre as metas e objetivos de vida traz uma vantagem: evidencia nossas fraquezas. Ray aponta que, todas as pessoas que encontrou na vida que são consideradas bem-sucedidas possuem fracassos em sua história e sabem reconhecer suas fraquezas. Pessoas malsucedidas tem dificuldade de reconhecer esse processo. Ser capaz de adaptar-se as restrições do ambiente e suas próprias é essencial.

 

Sobre liderança, ao escrever o livro Ray não se considerava o melhor tipo de líder que se pode ser. Para ele os estágios são os seguintes: orquestrar uma equipe capaz de executar as tarefas bem em sua ausência, ser capaz de realizar todos os processos sozinho com excelência, ser incapaz de fazer cada tarefa (porém sabe gerir as pessoas que sabem). O nascimento do livro foi justamente para que o autor passasse para a categoria mais plena de liderança, ele acredita que passar seus princípios para seus funcionários/associados era o segredo para atingir esse objetivo.

 

Não entrarei aqui nos detalhes da vida do autor, mas tentarei sintetizar as lições que ele tenta nos passar, a importância de definirmos princípios sólidos e da sistematização das nossas decisões, tanto na vida particular quanto no trabalho. No final, Dalio avisa: não é atingir a meta que nos traz mais satisfação, mas a consciência de que lutamos bem, e permanecemos íntegros.

Parte II - Princípios de vida

Trabalhar por si mesmo, ter opinião independente e refletir sobre elas, melhorar sempre. Esses são os desejos do autor para seus leitores. Para atingir isso é importante aprender com as falhas, aceitar que elas são reais e que apenas o desejo não muda a realidade. Ele chama esse conceito de ser HIPER-REALISTA. Encare a realidade como ela é, tente eliminar seus vieses (sim, é difícil) e baixar expectativas. Seja eficiente. Em outras palavras, pessoas com disposição para olhar com objetividade para si (e para os demais) tendem a concretizar seu potencial.

 

O segredo do sucesso está em lidar com nossas falhas, nossas fraquezas, nossas limitações. Questione-se o tempo todo sobre suas teorias, confronte-se, pois é só a partir desse processo que você consegue crescer como indivíduo. Mais do que isso, assumir suas falhas, ser completamente consciente sobre elas é que gera a oportunidade de desenvolvimento.

A natureza e o ser humano buscam a perfeição e por isso estão em constante mutação. Buscamos melhorar, e ainda que isso não aconteça sempre, é a busca incessante por essa perfeição que nos faz de fato evoluir. O autor aponta que, para contribuirmos com a evolução, devemos estar em harmonia com as leis do universo, é isso que ele define como ser “bom”.

 

O processo de evolução pessoal passa por um ciclo em espiral contínua. O sucesso é uma combinação de encarar a realidade como ela é e usar sua determinação para seguir em busca dos seus sonhos (metas). Todos os ingredientes são essenciais, sem metas a determinação não será focada. Sem determinação não atingiremos as metas.

Diante de uma dificuldade, se mergulhamos no fracasso não conseguimos evoluir. Contudo, se adicionamos REFLEXÃO, temos a chave para o PROGRESSO. Identifique os erros e suas causas. Assuma as suas escolhas erradas de maneira honesta, não se preocupe em parecer bom para si mesmo ou para os outros, e sim em superar os desafios fazendo escolhas melhores no futuro. Para isso o processo de reflexão deve ser justo consigo e com os outros. Trace o diagnóstico da falha e faça um plano de ação que solucione os problemas. Não tenha medo de pedir ajuda, ninguém é bom em tudo.

 

Para vencer todos esses processos de maneira mais racional possível (sem emoção) Ray propõe um passo de cinco etapas:

 

  1. Estabeleça metas claras: mantenha suas regras curtas e poucas, para que você garanta que conseguirá atingir todos os seus objetivos
  2. Identifique e não tolere problemas: a maior parte dos problemas são oportunidades de melhoria. Não confunda problema com CAUSA;
  3. Diagnostique o problema: especifique todas as características e não seja afoito em tentar já SOLUCIONAR o problema. Chegue na causa raiz e foque no que lhe trará o melhor custo-benefício (aplique Pareto 80/20)!
  4. Planeje: determine os caminhos para chegar à solução desejada a partir do diagnóstico. Determine cada tarefa a ser realizada, especificando QUEM, QUANDO e COMO.
  5. Implemente: com base no planejado, realize as tarefas conforme o planejado

Os passos (4) e (5) são importantes pois o plano conecta cada tarefa a ser implementada com o objetivo final. Assim, cada tarefa ganha um sentido maior quando ligada a um plano geral. Os 5 passos devem ser seguidos sempre, e se você falha neles deve identificar o problema em você que lhe impede de seguir esse looping de sucesso. Identificar fraquezas, assumi-las e buscar contorná-las é a chave da evolução.

 

Lembre-se, as fraquezas não importam se você encontrar a solução. Mais importante do que isso, para ser eficiente deve se ter um compromisso com a verdade real e não a que VOCÊ acha que é a correta, para isso seja mente aberta constantemente.

 

 

Entenda que cada pessoa tem uma maneira de pensar, e algumas pessoas tomam decisões aparentemente contraproducentes não por incompetência, mas por uma questão fisiológica. “O gênio criativo quase sempre existe na fronteira da insanidade” e os transtornos mentais atingem 20% da população estadunidense (Uma mente inquieta). Cada um possui suas fortalezas e fraquezas, um bom líder sabe lidar com elas e alocar as pessoas para executar as tarefas da melhor forma possível.

 

Desenvolver bons hábitos também é essencial para o caminho do sucesso. Hábito é inércia, é a tendência de continuar a (não) fazer as coisas. Felizmente, pesquisas indicam que é possível reverter hábitos ruins ou criar hábitos bons a partir da repetição e do uso de gatilhos mentais corretos.

Parte III - Princípios de trabalho

Para sua vida particular você pode escolher seus próprios princípios/valores. Dentro de uma organização, é importante que os valores do grupo sejam explícitos e bem compreendidos por todos. Assim, a definição de metas, identificação de problemas e suas soluções surgem de maneira orgânica pelas pessoas que compõem o grupo. Ter pessoas que individualmente possuem valores alinhados aos da empresa facilita ainda mais a fluidez das ações e o direcionamento para o sucesso.

 

Essa sessão do livro apresenta mais de 200 princípios com comentários de Dalio sobre cada um deles. Farei um resumo geral tentando compilar as ideias, afinal, o objetivo aqui é gerar um resumo do livro e não o transcrever. Seguramente os princípios aqui destacados foram os que *me* chamaram mais atenção *no momento de vida* que eu estava quando li o livro.

 

Dito isso, o autor possui vários princípios relacionados à transparência e integridade. Ele apresenta vários exemplos como sempre ser verdadeiro com as pessoas, e toda a equipe de trabalho sobre absolutamente qualquer situação. Ray também é categórico quanto a abraçar os erros. Erros devem sempre ser identificados, não para achar/punir um culpado, mas para analisá-lo, corrigi-lo e garantir que não aconteça novamente. Errar faz parte da vida e do processo de aprendizado e precisa ser valorizado, e não escondido. Ray Dalio frisa várias vezes que não devemos usar pronomes genéricos como NÓS ou ELES, e sim substituir por nomes específicos. Não queremos mascarar responsabilidades. O erro, mais uma vez deve ser aceito e se isso está na cultura da empresa, ela só tem a melhorar continuamente seus processos.

 

Outro ponto é o da auto-reflexão, que permite que evidenciemos nossos erros/fraquezas e procuremos evoluir/contorná-las. É mostrando que abraçamos esses pilares que atraímos e encorajamos que as pessoas ao nosso redor também o façam. Para isso, temos que ter a mente aberta para buscar a verdade (diferente de buscar estar certo) e entender os valores das pessoas que te rodeiam/compõem a organização. Uma empresa é um grupo de pessoas, e um grupo de pessoas estabelece um relacionamento. Um relacionamento é impactado a partir de conflitos naturais, que, quando bem geridos em um diálogo de mão-dupla (quando ambas as partes entendem onde ceder) fortalecem os laços. Se os valores não se alinham, ou se as iterações se assemelham a monólogos, qualquer relacionamento se encaminha para a ruína.

 

Em qualquer discussão em equipe é importante que os papéis tenham os pesos certos. Todas as pessoas têm opinião sobre tudo, poucas opiniões são embasadas, e cada uma tem uma relevância/profundidade diferente a depender da pessoa. Portanto, pese (ou relativize) opiniões. Isso vale para suas próprias opiniões. A melhor “medida” para uma opinião é se seu emissor já completou a tarefa em discussão repetidas vezes com sucesso.

1+1=3

As decisões e trabalhos devem ser realizadas de maneira colaborativa, pois duas pessoas trabalhando independentemente serão menos produtivas que duas colaborando uma com a outra, pois uma “vê” a falha da outra e vice-versa. Daí o princípio 1+1=3. Para a colaboração ser assertiva, é preciso entender que as pessoas são diferentes na própria maneira de pensar e para isso um bom líder deve compreender seus funcionários e alocá-los de maneira harmoniosa.

 

Valores e aptidão são mais difíceis de mudar, por isso devem ter um peso mais forte na hora de contratar e alocar pessoas. Por outro lado, habilidades (skills) são “facilmente” adquiridas com prática e esforço. Assim, se um trabalho está sendo mal feito deve ser avaliado o motivo: aptidão ou habilidade?  Um erro por aptidão dificilmente será corrigido, por isso a pessoa deve ser alocada para outra tarefa.

A identificação de problemas deve ser uma meta e sua resolução a recompensa. Para sair da nossa sociedade viciada que encara problemas/erros como falhas graves e razão de vergonha, demonstre o porquê da identificação dos problemas deve ser encarada como uma oportunidade para evoluir, crie ferramentas de identificação de problemas e fomente seu uso recompensando quem as utiliza e punindo quem não a utiliza.

 

O autor aponta que o vício social pelo medo de errar se inicia desde nossa primeira infância, onde somos ensinados e testados quanto a uma miríade de fatos. Os mais sábios tiram as melhores notas porque sabem os fatos, e errar torna-se um evento embaraçoso. O sistema de educação não toma tempo para ensinar a nós, humanos, que errar faz porte do jogo de aprender o que funciona e o que não funciona. Assim, escolas não nos preparam para viver plenamente, criando adultos dependentes de seguir instruções e nada criativos.

 

Separe erros/problemas da pessoa em si que os causou/deixou acontecer. Procure entender o motivo do erro: falta de habilidade? De treinamento? Nunca pare de perguntar o porquê para chegar à raiz do problema. Descobrir a causa e não aplicar um plano de ação é ineficiente. Sempre elabore um plano de ação e continue a melhora contínua.

DELEGUE. Para delegar você deve construir uma equipe fenomenal, que seja capaz de realizar todas as tarefas sem que o gestor explique os detalhes. Para isso, treine a equipe e sempre mantenha um FAQ de todos os assuntos (e alguém responsável por manter o FAQ). Na verdade, o FAQ de Ray Dalio envolve não só documentar as dúvidas mais frequentes, mas manter um manual extenso e minucioso com todas as definições dos processos, responsáveis e principais erros.

 

 

(Ele se mostra fã de checklists ao passar tarefas, e muito da sua escrita revela a influência do Lean e de ferramentas atuais como o Scrum)

 

 

PRÍNCIPIO 192) Entenda que a habilidade de lidar com o desconhecido é mais importante do que o conhecimento por si só. Isso acontece porque há mais coisas que não sabemos do que é possível de aprender em uma vida

 

Interiorizando esse princípio, temos que perder o medo de perguntar e demonstrar que não sabemos algo. Lembremo-nos do princípio da transparência, admitir que não sabemos é essencial para buscarmos conhecimento (ou pessoas que saibam e possam nos auxiliar).

 

 

Seja um imperfecionista efetivo. Não perca tempo tentando ser perfeito (Regra de Pareto 80/20 lhe ajuda a maximizar decisões/ações). Saiba separar as coisas importantes e ataque-as primeiro e fique atento para as pequenas coisas, algumas delas são realmente importantes. Já outras, são apenas um vício de ansiedade pela minúcia de tudo.

 

 

Ainda que o autor pregue para não buscarmos a perfeição, um dos princípios é que um bom gestor deve ter como meta “estar acima da média” e buscar que a melhora contínua esteja em um ritmo para alcançar (e manter) o objetivo. Finalmente tenha a humildade de saber quando *sua* ideia não é boa o bastante e só aceite uma solução quando for boa o bastante.

 

Como qualquer princípio, a enorme lista de Ray Dalio é mais fácil de “falar do que seguir”. Porém, é lendo e estando ciente de todas as nossas imperfeições que conseguimos adaptar, evoluir, pular os obstáculos e atingir nossos objetivos. Ainda que pareça uma corrida, cruzar a linha de chegada é algo que ocorre para todos. O jogo aqui não está em chegar primeiro, mas quantos obstáculos conseguimos perpassar (e se o fizemos mais com gosto do que por obrigação).

 

E você leitor, quais são os seus PRINCÍPIOS?

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