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Antifrágil

Taleb é um autor conhecido pela sua “intimidade” com a aleatoriedade. O livro ANTIFRÁGIL (2012) é sua obra-prima [segundo próprio autor] e, curiosamente, foi o que menos gostei. Não sei muito bem se a ideia da antifragilidade se popularizou com influencers e chegou a mim antes mesmo de que eu pudesse ler o livro e isso me cansou, ou se, de fato, os insights dos dois primeiros livros me foram mais reveladores… o fato é que esse livro é longo e não conseguiu me cativar tanto quanto os outros.

 

De qualquer forma, muitas notas foram feitas e os destaques que fiz seguem abaixo para uma conferida “rápida” das ideias de anti-fragilidade do autor

 

Prólogo

A aleatoriedade existe, então, nosso objetivo é, de alguma forma, domesticar o imprevisível. Como?

Qual o contrário de frágil? Frágil é aquilo que é delicado, que quebra ao menor dos impactos. Muitos dizem que seu antônimo é a resiliência. Mas a resiliência apenas resiste aos impactos. O autor nos propõe então um neologismo: ANTI-FRAGIL: aquilo que, diante do impacto, se fortalece.

A fragilidade por ser medida (o quanto algo quebra diante de um impacto X). O impossível é medir o risco (quando e com qual força o impacto chegará). “Analista de riscos” é um emprego que Taleb abomina. O processo de descoberta/inovação depende de ajustes anti-frágeis e da assunção agressiva de riscos, mais do que da educação formal

Taleb critica principalmente uma classe social que não assume riscos pessoais, mas que influencia a sociedade em alto grau (na visão dele, políticos, banqueiros, burocratas). Ele defende brevemente que, sem a assumpção dos riscos pessoais, que se escondem nas complexas camadas das instituições modernas, nos levam a crises como a de 2008.

Nosso cérebro está ocupado em guardar memórias de maneira estável e coordenada, assim, nossa história parece ser muito mais exata do que de fato é. A aleatoriedade está mais presente do que podemos perceber. Associações causais são facilmente supostas, quando, na verdade, não passam de uma correlação sem causa-efeito!

Sistemas complexos são difíceis de prever, e a avaliação de variáveis isoladas (como um número razoavelmente manejável por nós) aparenta uma causalidade que é difícil de provar. As coisas pioram quando os acontecimentos são raros: quanto mais raro, menos remediável, menos conhecimento temos quanto a sua frequência, impactos e o que o causou.

Menos é mais e, geralmente, mais eficaz

Para conseguir domar a aleatoriedade, ou se tornar antifrágil, passamos por um processo heurístico: aplicação de regras simplificadas que tornam as coisas simples e fáceis de se implementar. Se estamos sujeitos ao aleatório, então, nada melhor simplificar e não perder muito tempo com elucubrações, a níveis de sofisticação que só nos fazem parecer espertos e não nos ajudam a “prever mais o futuro”.

Ao usarmos heurística, devemos ter a total e plena consciência que são atalhos mentais imperfeitos, porém, com melhor custo benefício.

Tudo que é não linear em sua resposta é frágil ou antifrágil diante de determinada fonte de aleatoriedade. Tudo que é frágil odeia a aleatoriedade, e vice-versa. O frágil deseja a tranquilidade, o antifrágil cresce com a desordem e o robusto não se importa muito com nada. Quando estamos em um estado de fragilidade, qualquer erro pode ser a ruína. Já em situações antifrágeis, os erros são pequenos e benignos.

Nassim faz a defesa que este livro é usa obra prima, que aqui contém toda sua teoria sobre aleatoriedade (ILUDIDOS PELO ACASO) e CISNE NEGRO, e que as ideias serão apresentadas em 4 “sublivros”.

Vamos a eles!

Livro 1 – O antifrágil uma introdução

O pacote antifrágil não é só “inquebrável”, como também se fortalece após os traumas que passa.

Funfact:

  • textos mediterrâneos antigos tinham um vocabulário reduzido para cores: três ou quatro (preto, branco, vermelho, amarelo). “Azul” é inexistente no grego antigo e assim o mar é descrito em Homero como “vinho escuro”)
  • HORMESE: momento em que pequenas doses de uma substância nociva é benéfica ao organismo, agindo como medicamento
  • HORMESE REVERSA: a ausência de desafios nos degrada

Privar os sistemas de agentes estressores não é necessariamente algo bom, podendo ser, inclusive, prejudicial. De forma parecida, só há inovação quando estamos em apuros, da mesma forma que executamos melhor tarefas urgente quando estamos ocupados.

A dificuldade é o que desperta o gênio – Ovídio

Porque o gerenciamento de risco é história de pescador: corriqueiramente usa-se o “teste de estresse”, isto é, usam o pior cenário do passado conhecido para estimar os riscos. PORÉM, quem disse que o pior cenário OCORRIDO é o pior que pode ACONTECER?

A matéria inanimada tende a ser frágil, pois tende a quebrar diante do estresse. Os seres vivos, no entanto, tendem a serem anti-frágeis, pois se beneficiam quando são submetidos a forças externas até um certo limite. Um pensamento curioso de Nassim que parafraseo aqui: “a senescência pode não ser evitável, mas grande parte do envelhecimento provém da doença civilizatória de tornar a vida mais longa enquanto as pessoas ficam cada vez mais doentes. Em um ambiente natural, as pessoas morrem sem envelhecer (ou em um processo de envelhecimento muito rápido)”. Ele vai mais longe, coloca o abuso das farmacêuticas que “curam” tudo, e seriam capazes de terem apagado os humores de Edgar Allan Poe e os lamentos de Sylvia Plath da história, caso suas medicações tivessem sido lançadas antes na história.

Nosso mundo é complexo, e em sistemas complexos as interdependências são múltiplas, confusas e significativas. Mais uma vez, o autor nos alerta da dificuldade de estabelecermos relações de causa e efeito. A variabilidade é necessária na vida, é isso que a torna empolgante. A natureza aprecia a diversidade ENTRE os organismos, finitos e mortais.

Se o mundo é aleatório, encontrar a solução dos problemas também será um ato de tentativa e erro. Isso pode parecer frustrante e ineficaz, mas, como tudo, depende do ponto de vista. Se cada tentativa lhe fornece informações sobre o que NÃO funciona, você começa a compreender qual caminho deve trilhar para chegar na solução.

Como sociedade, o erro alheio nos beneficia ainda mais, pois não impacta nossa vida particular negativamente, apenas positivamente (se formos espertos o bastante). Erros que não destroem sistemas, ajudam a melhorá-lo [quis escrever aqui: ajudam a torná-lo mais robusto. Mas para ser fiel aos conceitos do livro, o correto é dizer: ajudam a torná-lo antifrágil]

Cada acidente aéreo nos deixa mais próximo da segurança. Um acidente em planta nuclear (que não destruiu o planeta) nos faz compreender o que devemos melhorar nos projetos de segurança. Acidentes desse tipo são como um mecanismo de defesa, epistêmicos pois não afetam as outras partes do sistema. Já em sistemas globais econômicos, em que tudo está interligado, a coisa muda de figura…

Você nunca sabe que tipo de pessoa está diante de você a menos que lhe sejam dadas oportunidades de violar códigos morais ou éticos.

Alguém que nunca pecou é MENOS confiável do que aquele que só pecou uma vez. Alguém que tenha cometido muitos erros (embora não o mesmo erro mais de uma vez) é mais confiável do que alguém que nunca cometeu erro algum.

Para que migremos de um sistema globalizado frágil para anti-frágil, precisamos que cada empresa seja necessariamente frágil. Taleb advoga que, quando as partes são frágeis, quando um erro ocorre, afetará apenas aquela parte (e não todo o sistema). Contudo, há de se cuidar para que isso não ocorra à custa do indivíduo (ele se declara como humanista).

Assim como não existe a ideia de “soldado fracassado” (vivo ou morto, são glorificados), os empreendedores, tendo sucesso ou não, deveriam ser aclamados por todos. O empreendedor que não teve sucesso contribui para o sistema com seus erros, para que uma indústria compreenda o que funciona ou não. Da mesma forma, a pesquisa científica, quando se prova errada ou não gera frutos econômicos, não deveria ser estigmatizada, pois é o trabalho individual de cada pesquisador, que leva o debate das várias realidades possíveis, que nos faz compreender qual caminho seguir.

Livro II – A modernidade e a negação da antifragilidade

Dentro do debate de como construir um sistema complexo anti-frágil, Nassim entra na discussão política não ideológica, mas conceitual de organização do Estado (e das empresas). Ele aponta que, um grande Estado não é um grande município, e que as demandas de 10 pessoas não duplicam se a população duplica. Em uma sociedade micro, onde os líderes estão muito próximos aos liderados, a reação biológica da vergonha, por exemplo, atua de forma visível na atuação destes líderes. Assim, ter um Estado formado por vários micro-municípios é mais benéfico do que grandes cidades cosmopolitas. (Ele pontua que, em sua visão, a Suíça é o país mais bem sucedido, mesmo tendo um grau de escolarização menor que seus pares; para ele, um dos motivos é o pais ser organizado por pequenas comunas e a profissionalização ser mais técnica que acadêmica).

Em outras palavras, Taleb escreve sobre a personalização dos problemas, isto é, somos mais impactados quando os afetados são conhecidos (ou nos parecem conhecidos). O contato visual com seus pares muda o comportamento de uma pessoa. O funcionário público que lida com número em planilhas não sente vergonha de seus erros. Estados-nação dependem da burocracia centralizada; impérios, das elites locais, permitindo uma autonomia comercial das cidades;

[Não sei se fiz uma leitura errada ou não, mas Taleb me pareceu mais direitista libertário, mas nesse ponto do livro defende que lutemos por um controle social que limite o tamanho das entidades, de forma geral, ele defende a limitação de empresas, aeroportos, fontes de poluição e velocidade em rodovias]

Não seja um peru: o peru, diante da evidência que é alimentado todos os dias, assume que viverá para sempre. Seu Cisne Negro acontece próximo ao Natal, quando é sacrificado. O caso do peru ilustra a situação difícil e comum de que a ausência de evidência não é o mesmo que evidência de ausência!

Ressonância estocástica: ruídos aleatórios acrescentados em sistemas melhoram o seu funcionamento

Iatrogenia: erro médico no diagnóstico, que é agravado pelos lobistas e farmacêuticos que lucram com a doença diagnosticada. Pior, a sensação social de que o médico sempre deve prescrever algo faz com que a iatrogenia se acentue.

Fenomenologia: observação de uma regularidade empírica, sem que tenha uma teoria estabelecida; (Fora da física, teorias não são muito úteis para a tomada de decisão). Enquanto na física as teorias são aperfeiçoadas (ou ajustadas), nas ciências sociais a impressão que se passa é que cada novo pensador propõe uma teoria absolutamente divergente.

O herói do Cisne Negro está fadado a não ser reconhecido, pois ao evitar a desgraça, não recebe os louvores dado que a desgraça não ocorreu. Identificar Cisne Negro, na verdade, é impossível (como desenvolvido no livro de mesmo nome), contudo, podemos nos defender de efeitos tipo Cisne Negro. O segredo é prestar atenção apenas nas informações relevantes (sendo que relevante não é a manchete do dia – todo dia o jornal precisa de uma – mas um fato que saia da média diária). Pequenas alterações não passam de ruído, e devemos aprender a diferenciar ruído de informação útil.

Livro III – uma visão não preditiva do mundo

Depois de nos relembrar de seus personagens Tony Gorducho e Nero, Taleb nos pincela um pouco com o estoicismo (indiferença ao destino) e dá o spoiler da história de Sêneca. Os estoicos desprezam o luxo, são robustos pois desenvolvem uma imunidade as circunstâncias externas. Para Sêneca, os bens materiais (ou sua posse) causam aflição pois uma vez possuído, pode ser perdido. Ele fala em domesticar as emoções (e não as eliminar). De forma que, ainda que os bens materiais possam ser tomados de nós, nossas virtudes sempre estarão conosco.

FRAGILIDADE

=

ter mais a perder do que ganhar

=

mais desvantagens que vantagens

 =

ASSIMETRIA DESFAVORÁVEL

 

ANTIFRAGILIDADE

=

ter mais a ganhar do que perder

=

mais vantagens que desvantagens

=

ASSIMETRIA FAVORÁVEL

 

Uma estratégia para buscar a antifragilidade é o método bimodal (ou barbell), é a utilização de uma barra de pesos que “domestique” a incerteza (Sabendo que é impossível eliminá-la. Domesticar a incerteza pode ser visto como um apreço pela volatidade, de forma que o indivíduo se beneficie mais quando está certo do que prejudicado quando está errado.

Taleb também fala bastante como a tecnologia evolui muitas vezes pela sorte e pela simplicidade. Ainda que tenhamos um setor dedicado a teorias complicadas e difíceis de seremexplicadas, o poder da descoberta geralmente encontra berço em ideias simples e que não exigem a aplicação de métodos complexos. O brilhantismo está justamente em fazer o complexo parecer simples.

 A vida só pode ser vivida olhando-se para frente, mas compreendida olhando-se para trás – Kierkegaard

[Nesse ponto do livro, estamos chegando na metade da exposição das ideias de Taleb. Passei a grifar muito menos, seja porque ele ilustra bastante suas ideias com casos que não julguei necessários apontar aqui, seja porque é repetitivo levando em consideração que já havia lido os livros anteriores.

Um ponto aleatório que grifei e quando o autor conta sobre sua própria infância/educação, e como ele, apesar de aluno formalmente rebelde, era extremamente dedicado, chegando a ter uma rotina de leitura de 30 a 60 horas por semana (4 a 8 horas por dia!).

Posso estar cometendo um crime que o autor recrimina de estabelecer causa-efeito, mas vejo que a qualidade das ideias de Taleb (nota-se que ele é extremamente culto, conhecendo diversos autores clássicos em detalhe, algo raro e fora do padrão, especialmente para nós, brasileiros) se devem a uma educação diversificada e profunda – por meio da leitura de livros- desde sua adolescência.

Fica aqui um pensamento – como fazer com que as pessoas leiam tanto em um mundo de redes sociais que QUANDO “boas”, resignam-se a uma “pílula de conhecimento” de 30 segundos?]

 

O MÉTODO SOCRÁTICO

Sócrates não deixou nada escrito, assim, seus pensamentos e métodos nos foram passados por seus seguidores (especialmente Platão e Xenofonte). Quando falamos de métodos socrático, nos referimos a técnica de fazer perguntas ao interlocutor da tese que queremos vencer (perguntas geram menos comportamento defensivo que afirmativas em desacordo com a tese). A formulação das perguntas leva, aos poucos, ao interlocutor a negar sua própria ideia sozinho. Essa técnica funciona para pessoas que tem pouca clareza de pensamento e não tem seus conceitos muito bem definidos.

 

Nosso método de tomar decisões é com base na fragilidade e não na probabilidade. Gastamos milhões para nos defender de acidentes catastróficos, ainda que a chance de eles ocorrerem seja mínima. Se um teste para detectar uma doença tem 95% de confiança, isso nos deixa satisfeitos, mas se um avião tem 5% de chance de cair, você provavelmente não embarcaria, porque o risco é muito grande (hoje, a probabilidade é menos q 1%).

Livro V – o não linear e o não linear

Há muito mais eventos comuns do que eventos extremos.

  • Nos mercados financeiros, existem pelo menos 10k eventos que provoquem uma variação de 0,1% do que eventos de 10%.
  • Por dia, 8k micro-terremotos ocorrem na Terra (3 milhões por ano, abaixo de 2 na escala Richter)

Para os eventos de baixa magnitude, não somos impactados e eles não tem efeito cumulativo.

Se ganhamos mais do que perdemos com as flutuações, desejamos ter uma infinidade de flutuações. Alguém que tenha um retorno linear precisa estar certo mais de 50% do tempo. Alguém que tenha um retorno convexo, muito menos que isso. Quanto mais flutuação, maior será o desempenho de uma estratégia antifrágil.

O mundo ideal de Taleb é “simples” [eu gostaria de ler um pouco mais das ideias políticas dele, seria legal ter um livro específico sobre as configurações das instituições e seus poderes], ele fala sobre bancos estatizados e mercado desregularizado [quando ele escreve me PARECE que ele defende um modelo parecido com o capitalismo chinês, mas em nenhum momento ele DEFENDE abertamente isso]. O autor coloca que quanto maior uma empresa, mais frágil ela é (por isso fusões de gigantes não é saudável). A teoria de economia de escala coloca que seria mais barato uma MEGA-EMPRESA, contudo, a realidade mostra que o ganho não é linear (quanto maior, mais barato) para todo sempre amém. As pressões sofridas também aumentam com o tamanho, a necessidade de criar mais burocracia para controle de qualidade e padronização de processos são inevitáveis e os riscos vão crescendo (ainda que fiquem ocultos).

As pessoas levam muito a sério explicações complexas porque acham que só porque é complicado é inteligente. A genialidade está justamente em simplificar, e não em complicar!

Não atravesse um rio se ele tiver, em média, 1,20 metros de profundidade. Ao tomar qualquer decisão, nunca se esqueça que o desvio padrão é muito relevante, e, se não o conhecemos, melhor não atravessar o rio.

Livro VI – Via negativa

APOFÁTICO – aquilo que não pode ser dito diretamente em palavras

VIA NEGATIVA – tentar se expressar pela negação, pelo aquilo que não é

Proclo (pensador antigo) dizia que as estátuas são esculpidas por subtração -> mais elaborada hoje na historinha de que Michelangelo teria dito ao papa que Davi já estava lá, ele só removeu o que não era Davi.

Ser iludido pelo acaso é não conseguir afirmar se, de fato, uma pessoa bem-sucedida tem habilidades, ou se uma pessoa com habilidades será bem-sucedida.

Mesmo que eu nunca tenha visto um cisne negro, DEVO saber que a frase “Todos os cisnes são brancos” não pode ser dita como certa (ausência de evidência não prova nada!). No momento que uma pequena observação pode refutar uma afirmação, a desconfirmação é mais exata que a confirmação (ter milhões, bilhões ou zilhões de observações de cisne branco NÃO prova que todos os cisnes são brancos).

A ideia do poder da desconfirmação (ou via negativa) é a ideia da ciência. O cientista busca desprovar uma hipótese

A regra de Pareto (80/20) foi e é muito útil em vários campos. Contudo, o avanço tecnológico tem migrado essa regra pra uma distribuição muito mais acentuada (99/1), em um estilo de sociedade que “o vencedor leva tudo” [ou seja, a tecnologia, bela e democrática, acentuou os efeitos da concentração de renda]

  • 99% do tráfego da internet é atribuído a menos de 1% dos sites
  • 99% das vendas de livros vêm de menos de 1% dos livros

O erro elementar: quando pensamos no futuro usamos o presente como padrão e adicionamos (ou subtraímos) coisas ao padrão que façam sentido, tomando como base acontecimentos do passado para interpolação.

A expectativa de vida de um item é proporcional a sua vida passada (os espetáculos da Broadway que estão em cartaz a MAIS TEMPO tendem a permanecer, as pirâmides de Gizé tendem a ter uma vida mais longa que qualquer construção modernista).

Taleb tem horror a pergunta “quais são os 10 melhores livros que você recomenda?”. Para ele os melhores livros foram escritos a 80 anos atrás [não deveria mais ler os livros dele rsrs…]

Investidores superestimam suas chances de sucesso porque o sucesso é premiado, alardeado e evidente. Não se propagandeia o fracasso.

A nossa mente maluca e gosta de heurísticas, de atalhos: ficamos mais CHATEADOS ao ouvir “você perdeu 10k” do que “sua carteira variou de 157k para 147k”. Absorver um montante exato é mais fácil que fazer a conta da variação.

Hedonismo (ou esteira rolante): compramos algo novo e nos sentimos “bem”. Mas logo depois nos acostumamos com esse padrão e desejamos “subir a barra” mais uma vez.

O que é uma evidência? O anti-natural precisa provar seus benefícios, o natural, não. (A natureza deve ser considerada muito menos idiota que os seres humanos). Não confunda a NECESSIDADE de evidência com a evidência de ausência de danos.

Nenhuma evidência de doença != evidencia de nenhuma doença

A dificuldade do tratamento/risco médico -> dos 120k medicamentos disponíveis hoje, mal se pode encontrar algum que funcione pela via positiva (isto é, deixe MELHOR uma pessoa já saudável) -> por que iríamos querer isso? Oras, porque a iatrogenia está presente no diagnóstico médico e até nos testes. Se o paciente está perto da morte, todos os tratamentos deveriam ser testados. Se o paciente está bem, o médico deve ser a mãe natureza.

Acreditamos em teorias (somos humanos). Mas teorias vem e vão. A experiência permanece. Na física, a fenomenologia é a manifestação empírica dos processos. Ela estuda o que é, e não o que a teoria deseja. O que acontece NÃO deve ser tratado como “outlier”. Em outras palavras, Taleb defende que, ou a teoria explica tudo tin tin por tin tin, ou ela não vale! Ele é o defensor do empirismo em todos os casos.

Nós humanos tendemos a atribuir a razão do sucesso as nossas habilidades. E, quando o fracasso chega, a culpa é sempre de uma causa externa.

Se nossa vida é aleatória, se nossas “medidas” apresentam variabilidade, veja como é fácil para um médico bem intencionado cometer iatrogenia. Se é normal ter medias de pressão acima da média (porque a pressão varia, e é normal que varie). Se damos “o azar” do médico medir sempre uma pressão mais alta, podemos ser classificados como hipertensos. O uso da medicação, nesse caso, faz mais mal do que bem… e reduzimos nossa expectativa de vida! [Aqui, fica um alerta, a tecnologia dos wearables ajudará imensamente SE um dia todos os humanos terem esses dados rastreados, podermos de fato entender QUAL é a média de cada um e detectar as alterações baseada em cada ser humano]

Até o século passado, a expectativa de vida era 30 anos. A distribuição, contudo, é extremamente distorcida, pois a mortalidade infantil também era EXTREMAMENTE acentuada. Os ganhos de expectativa de vida recente podem ser atribuídos mais por ganhos sociais (saneamento) do que por progresso científico (considerando aqui que já se sabia que saneamento e assepsia são necessários e é a disseminação desse conhecimento que diminuiu a morte infantil/no nascimento, e não a descoberta de curas de doenças).

O tratamento do tumor que não mata uma pessoa é tóxica pois a quimioterapia é danosa ao organismo. Assim, melhorar a detecção de tumores que matam seria mais importante que “melhorar” a quimioterapia. Contudo, a sociedade COBRA dos médicos tratamento, e o erro de tratar os levemente doentes, acaba penalizando as estatísticas.

Para as sociedades antigas, a morte não é o pior destino que se pode ter, e sim a morte desonrosa (acredita-se que algumas tribos muita antigas a morte inclusive era prêmio para quem vencesse jogos religiosos). A ilusão moderna hoje egocentrista é que devemos prolongar a vida o máximo possível. [Eu inclusive me pergunto corriqueiramente qual seria o limite para nos medicarmos quando chegamos a uma certa idade, e qual o sentido de internar pessoas que não podem mais exercer as atividades que gosta – polêmico, eu sei, mas ver parentes sofrer em cama de hospital te faz refletir…]

Nós como indivíduos não deveríamos buscar a sobrevivência custe o que custar. Ao fim e ao cabo, a Mãe Natureza é que sabe mais, e o que perduram são nossos genes, e não nossa mente.

Livro VII – A ética da fragilidade e da antifragilidade

No estoicismo, a prudência é similar à coragem: é necessário tê-la para lutar contra os próprios impulsos.

Ser corajoso também significa honrar seus valores. Fazer uma previsão e não ter “skin in the game” deve ser visto como não confiável. Taleb é categórico que está atitude é antiética (isto é, emitir opiniões sem estar exposto aos danos).

Ter coragem (ou ser prudente) não é significado de ser estúpido: tenha redundâncias e margens de proteção. Assuma que você pode estar errado (Eventualmente você estará!)

Um problema da modernidade (com os influencers) é que nunca antes quem fala muito (sem ter experiencia real) foi colocado tão em evidência. [vou além: a internet funciona muito mais com carisma que com competência; claro, conhecimento para impulsionar posts são úteis, mas a legitimação do que é pop e não necessariamente competente é um problema grave e gera o enriquecimento de vários charlatões]

Nunca pergunte ao médico o que fazer. Pergunte a ele o que ELE faria se estivesse em seu lugar.

A tomada de decisão no mundo real (ações) são talesianas. Fazer prognósticos com palavras é aristotélico. O mundo biológico evolui a partir da sobrevivência, e não com opiniões do tipo “eu previ” ou “eu avisei”. Para Popper, as ideias também competem para sobreviver, e, eventualmente, a menos errada sobreviverá. Contudo, para Taleb essa visão é enganosa, pois quem sobrevive não são as ideias, mas as pessoas que acreditam nela (e que tem mais poder político/econômico para alardear a ideia).

FunFact – para eliminar a “covardia” nas tropas romanas, se uma legião perdesse uma batalha com suspeita de covardia, 10% dos soldados e comandantes eram executados por sorteio aleatório. Daí a expressão DIZIMAR (que foi deturpada para o extremo de aniquilar tudo e todos)

Nota de rodapé – uma solução de Taleb para evitar “empresas grandes demais”: se a empresa é considerada “potencialmente merecedora de auxílio financeiro, não poderá pagar a seus funcionários salário maior que ao teto público. Essa imitação impediria que os diretores fizessem bobagens e, em caso de fracasso sejam socorridas pelo governo como acontece hoje (prejudicando a economia como um todo, visto que o socorro evita a quebra da empresa, mas o dano causado pela bobagem raramente é ressarcido).

Segundo Aristóteles, homem livre é o que pode ter as próprias opiniões. É importante não derivar nossa identidade pessoal e emocional do nosso trabalho. Só seremos livres (segundo nossa própria opinião sincera) se não dependemos do nosso trabalho para sobreviver.

Taleb critica também como pessoas de cargo público (ou ex-reguladores) usam sua posição para lucrar de forma antiética, alegando ser “legal” (como se o que é legal fosse, necessariamente, ético). Ele descreve conversas que teve em Davos que o horrorizaram e defende a regulamentação simples, pois as complexas são um incentivo para as tramóias.

Mais dados não significa necessariamente melhor. Mais dados pode significar mais informação falsa (por exemplo). Muitas instituições obrigam os pesquisadores a publicar, e isso tem gerado uma produção falseada de conhecimento, que mais atrapalha do que ajuda.

O autor também faz uma crítica das disciplinas baseadas em estatística e da dificuldade de determinar causalidade. A correlação existirá fatalmente quando lidamos com muitas variáveis aleatórias. Além disso, esse campo é altamente influenciado pelo viés do pesquisador na configuração do experimento, ajustando-o ao que se está procurando (formular hipóteses após resultado).

Conclusão

Só está vivo quem consegue apreciar a volatilidade. A comida sabe melhor quando temos fome; os resultados são mais prazerosos quando nos esforçamos; uma vida ética deixa de sê-la quando despojada dos riscos pessoais.

Ao “final” do livro (graças ao Kindle, quando chegamos ao 70%) temos o Glossário, em que o próprio autor destaca seus principais conceitos, e já é uma excelente forma de resumo por si só =D.

Quando acabar essa revisão, vale uma passadinha por lá como um autoteste se capturamos todas as ideias 

O que mais gosto da leitura de Taleb, na verdade, é da estrutura. A forma como ele organiza as ideias e linka as informações de uma forma leve, e não acadêmica é muito valiosa pois aproxima mortais como nós a um pensar crítico. O glossário final nos ajuda a relembrar as ideias, mas o Apêndice para mim é sensacional, pois ele, além de fornecer a Bibliografia como um verdadeiro artigo científico, coloca comentários e agrega as informações por temas (a bibliografia é apenas um “menu” alfabético de fontes).

Segui me encantando mais pelos outros livros, mas esse também contém ideias valiosas e que devemos revisitar corriqueiramente, pois ele nos mostra como é fácil cairmos em tentações em acreditar em correlações, seguirmos médias e seguir um viés positivista de confirmação.

 

 

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