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O paradoxo da escolha

O livro O PARADOXO DA ESCOLHA (The Paradoxo of Choice), do autor BARRY SCHWARTZ, é difícil de ser encontrado na versão em português e eu li a versão destacada na imagem ao lado, em inglês. A leitura é leve (não precisa ser fluente na língua nem ser mestre em psicologia), com charges ao longo dos capítulos que ilustram com bom humor os pontos do autor. Eu encorajo qualquer um que tenha um domínio razoável no idioma e queira ler toda “história” a adquirir a versão original.

 

Caso contrário, vem comigo!

 

Abaixo, preparei um resumo completo de cada uma das partes dessa aula que Barry nos dá sobre o porquê do excesso de escolhas afetar nossa liberdade e felicidade.

Resumo

Os argumentos do livro de que vivemos em um mundo com MUITAS escolhas, e que isso não nos causa tão bem quanto imaginamos, giram em torno de cinco pilares:

 

    1. Os humanos estariam melhores se aceitassem voluntariamente uma certa restrição nas escolhas;
    2. Estaríamos melhores procurando o que é “bom o bastante” ao invés do “melhor”;
    3. Deveríamos diminuir nossas expectativas quanto ao resultado de nossas próprias decisões;
    4. Decisões do tipo “irreversíveis” são melhores;
    5. Observar a grama do vizinho insistentemente não nos causa bem algum.

Os cidadãos dos países desenvolvidos, especialmente os Estados Unidos, deparam-se com uma gama de opções assustadora quando paramos para pensar a quantidade de produtos disponíveis, sejam itens comuns do dia-a-dia como alimentos, seja bens de consumo como eletrodomésticos ou seguros de saúde, vida, casa… O poder de escolha, e a existência de tantas opções está muitas vezes ligada ao ideal da liberdade e da possibilidade de conseguirmos máxima satisfação dado que, diante de tantas opções, alguma deve nos proporcionar o melhor e maior grau de satisfação… certo?

 

Bem, é aí que o autor inicia uma série de exemplos, assessorado por estudos conduzidos por colegas brilhantes da área, os laureados com o Nobel Kahneman e Thaler. Os vieses comportamentais atacam os seres humanos, que talvez não consigam escolher da melhor maneira possível. O que é pior, é que não estamos 100% conscientes de que somos influenciáveis, pensamos que somos espertos o suficiente para não cair nas campanhas publicitárias (marketings), e pesquisamos a fundo cada novo produto (principalmente se o valor do bem é alto). Mas claro, lá está o viés da disponibilidade e do enquadramento para balizar nossas decisões, e ir contra a estatística, ou seja, contra a racionalidade.

 

Nosso egocentrismo humano está seguro de que é capaz de fazer a melhor escolha, e é aí que os maximizadores (maximizers) atacam, pondo em escrutínio cada opção, levantando os prós e contras, fazendo matrizes multicritério (para os engenheiros e administradores de plantão) em busca da melhor solução. Você pode até argumentar que não é bem assim, que na verdade você é apenas mais um satisfator (satisficer) em busca de uma opção boa o suficiente para satisfazer seus desejos.

 

Se você for sincero vai perceber que tem um pouquinho dos dois, para cada área da sua vida.

 

Mas o propósito desse livro é escancarar os maximizadores que moram em cada um de nós, e extirpá-lo de nossas entranhas em busca de uma vida mais feliz, sem tanto arrependimento de estar perdendo algo melhor. Para isso, precisamos entender a fundo porque sofremos com nossas escolhas e, mais importante, porque não percebemos que sofremos.

 

Grande parte dos lamentos resultantes de uma má escolha decorrem do fato de termos outras opções. Se não estamos 100% satisfeitos com a decisão tomada, e tantas opções ficaram sobre a mesa, é fácil imaginar que existe uma opção melhor. O remorso ataca cada um de maneira diferente, seja imaginando cenários em que escolhemos diferente, seja nos comparando com os outros.

 

Os trade-offs decorrentes de cada escolha, e evidenciados por nós mesmos na tentativa de realizar a melhor escolha (ou mesmo a boa o bastante) torna a tarefa de escolher cada vez mais complexa e dispendiosa intelectualmente.

 

O tempo gasto analisando opções ou ruminando decisões erradas e cenários fantasiosos nos tira tempo de qualidade com nossos amigos e família. São as relações humanas que nos tornam felizes (e não os bens que possuímos). Ao menos é isso que indica inúmeros estudos de felicidade.

 

Assim, em busca de uma vida mais feliz e com menos sentimentos negativos como o remorso decorrente de escolhas erradas (ou não tomadas), devemos adotar táticas para otimizar nossa tomada de decisão. Para isso, podemos empregar “decisões de segunda-ordem” assim definidas:

  • Regras: siga regras simples para situações do dia corriqueiras (ex. usar o cinto de segurança)
  • Presunções: é a opção padrão, que você seguira 99% do tempo (ex. fazer a mesma rota para o trabalho)
  • Padrões: olhe apenas para opções que seguem um padrão pré-estabelecido. Se não cumpre os requisitos mínimos, não deve ser apreciada. (ex. comprar apenas produtos orgânicos)
  • Hábito: permanecer nas escolhas que entram no padrão.

 

Prefácio do autor e prólogo

Assim começa o livro, com um silogisma enraizado na sociedade estadunidense. Os Estados Unidos são, afinal de contas, o país referência da liberdade. E liberdade sem escolhas é apenas um termo vazio. Pense em ter a liberdade de ver TV a hora que você quiser, mas ter apenas disponível um canal! Esse exemplo torna simples a compreensão do argumento de Barry.

 

Contudo, esse livro é sobre escolhas, e o porquê elas são ruins. Ou melhor, porque um número restrito de escolhas é melhor do que infinito. Queremos quebrar o silogisma com uma série de exemplos para refletir o quanto as escolhas agregam nossa vida. Ou, qual o número de canais de TV deveria estar disponível para a maximização da minha felicidade?

 

O exemplo clássico que inicia o livro estrela o próprio Schwartz em uma compra trivial de calças jeans. Como não participante da cultura consumista do próprio país, ele ficou chocado com o número de possibilidades para escolher uma calça: são inúmeros cortes, tingimentos e arremates. Da última vez que fizera a compra, só havia uma opção.

 

Ele admite: poder escolher vários modelos não é algo que diminui nossa qualidade de vida. Pelo contrário, a possibilidade de escolher nos possibilita controlar nosso próprio destino e chegar em uma escolha que satisfaça os nossos desejos mais profundos. Entretanto, a relação entre mais escolhas e mais satisfação não é uma equação linear, argumenta Barry. Na verdade, em um certo ponto da “curva”, quanto mais opções são adicionadas ao leque, maior é a evidência de que, ao invés de mais liberdade, nos deparamos com um grau crescente de paralisia e consequente insatisfação.

Parte I – Quando escolhemos

A primeira parte do livro dedica-se a criar um alerta quanto ao número de escolhas que fazemos dia a dia. Os exemplos são inúmeros, e nem sempre paramos para prestar atenção na quantidade de opções que temos disponíveis na sociedade moderna. É importante destacar que o autor vive nos Estados Unidos, país desenvolvido e altamente consumista e alguns dos exemplos podem não refletir a realidade de outras sociedades. Porém, traçando um paralelo com o Brasil, apesar de alguns números serem menores, a ordem de grandeza de assemelha e podemos nos identificar em vários exemplos.

 

Um típico supermercado norte-americano possui mais de 50 mil itens, com cerca de 20 mil novos produtos todo ano. A escolha de alimentos não parece ser algo muito crítico, afinal, se você compra uma marca de biscoito lançada no mercado e não gosta do sabor, tudo bem. A compra não vai causar um rombo em seu orçamento e você pode sempre experimentar uma nova marca ou sabor em uma nova visita. Aparentemente, poder escolher entre mais de 250 tipos de biscoitos não causa mal algum…. Certo?

 

E se a compra não for perecível? E se precisamos de um eletrodoméstico, um bem durável e de valor significativo. Se cometermos um erro é mais improvável que consigamos trocar o produto (geralmente o erro é percebido depois de algum tempo de uso, ou porque o vizinho comprou um modelo mais novo 1 mês depois e nos sentimos “lesados”). O número de TVs ou micro-ondas disponível pode não ser tão grande quanto 250 biscoitos, mas já são mais de 50 modelos, um número considerável para qualquer consumidor médio analisar em detalhe todas as características e decidir qual é a melhor opção.

 

Os exemplos não param por aí, e Berry discorre sobre várias outras situações do dia-a-dia, chamando atenção para o número de escolhas disponíveis, seja para fazer compras em shoppings ou até na escolha de cursos na universidade. Enquanto no Brasil temos um universo de cursos com grades razoavelmente fixas, nos EUA as faculdades são mais genéricas, e o aluno pode escolher as aulas que assistir, gerando uma formação totalmente personalizada.

 

Passando da “vida real” ao “laboratório” o autor cita um exemplo de experimento feito com alunos que eram expostos a escolher barras de chocolate. Um grupo de alunos era exposto a menos opções (6) e outros a mais marcas (30). Os expostos a menos opções demonstraram-se mais satisfeitos com suas escolhas. Outras pesquisas, feitas com geleias e observando o potencial de um consumidor comprar o produto também indicou que, quanto menor o número de opções, mais propenso o consumidor de realizar a compra (e ficar mais feliz com ela). A conclusão dos estudos indica que quanto maior o leque de opções, mais desencorajado o consumidor fica, pois o esforço para decidir qual é melhor é muito grande. A escolha final é simples: não escolher.

As escolhas começam a ficar mais sérias quando Berry começa a discorrer sobre assuntos que impactam nossa vida em um nível mais amplo: e se pudermos escolher qual concessionária de energia nos atenderá? (Isso é verdade nos EUA e no Brasil é um caminho possível nos próximos anos com a popularização do Mercado Livre de energia).

 

E planos de saúde? Será que sabemos de fato o que é coberto ou não pelo nosso plano? Há uma opção melhor? Nos dedicamos a fazer essa análise?

 

Aposentadoria. Estamos engajados a poupar e escolher um fundo que está alinhado com o grau de risco que estamos confortáveis em correr?

 

E quanto a forma como nossa sociedade conduz a escolha de tratamentos médicos? Um dado interessante exposto no livro é que 65% das pessoas questionadas se querem ter liberdade e autonomia para escolher qual tratamento de câncer devem ser submetidas responderam que sim, desejam fazer essa escolha. Contudo, apenas 12% das pessoas que realmente têm câncer tomam para si a responsabilidade dessa escolha, o restante “passa” para o médico essa escolha.

 

A cultura da “beleza escolhida” também aparece com impressionantes 15 milhões de cirurgias plásticas em 2014. No Brasil, o número é bem menor, 1,5 milhão segundo a SBCP, mas o país é recordista no número de procedimentos em jovens, o que apela para o argumento da “beleza escolhida”.

 

Mas a vida não para, e ainda nos resta escolher para qual empresa trabalhar, o que queremos fazer, trabalho home-office ou híbrido ( a questão surgia mesmo antes da pandemia da COVID-19), com quem queremos nos relacionar, se casamos, se temos filhos (e quando o teremos), qual religião seguimos (e se seguimos)…

A existência humana é definida pelas escolhas que fazemos. A questão imposta acima evidencia que a cada segundo escolhemos permanecer vivos. No segundo que nos levantamos iniciamos um processo automático de escolhas (trocar de roupas, escovar os dentes, tomar café). Okay… é um processo que já estamos habituados a fazer, não estamos colocando em escrutínio cada segundo de nossas vidas. Ainda que seja lógico argumentar que cada escolha conta, ao automatizarmos o processo de decisão liberamo-nos de um “fardo”.

 

O segredo da felicidade está em, assim como automatizamos nossa rotina matinal, nos libertar do excesso de escolhas evidenciadas nessa primeira parte do livro.

 

Parte II – Como escolhemos

O processo de decisão envolve várias dimensões que podem ser resumidas em 6 etapas:

    1. Descobrir quais são nossas metas;
    2. Avaliar a importância de cada meta;
    3. Organizar as opções;
    4. Avaliar quão bem cada opção satisfaz cada meta;
    5. Escolher a opção vencedora;
    6. Utilizar as consequências resultantes da escolha para alterar as metas/fazer escolhas melhores no futuro.

Esse processo de 6 etapas naturalmente torna-se monstruoso dependendo do tipo de escolha que fazemos (se temos muitas metas/expectativas para preencher) e de acordo com o número de opções que temos.

O primeiro passo envolve a antecipação do que queremos (definir metas/expectativas). Aqui entramos em um domínio novo de discussão: será que o que queremos é realmente o que queremos? Se as escolhas são feitas em um momento em que possuímos uma expectativa de experiência (esperamos que o prato pedido no restaurante seja sensacional) as escolhas futuras serão baseadas no que lembramos das experiências passadas (não pedir mais o prato porque não foi tão bom quanto imaginamos que seria).

 

Porém, a lembrança que temos de uma experiência pode (e é) enviesada por basicamente dois fatores, como exposto por Daniel Kahneman em Rápido e Devagar. A primeira delas é que nos lembramos das experiências baseando-nos no “pico” de prazer/desconforto e como nos sentimos no final. Em síntese, o quanto tempo a experiência durou (seja prazerosa ou não) ou a proporção de prazer/desprazer não influencia nossa inclinação para escolher (ou não) uma opção. Para ler mais sobre isso dê uma olhada na minha resenha de Rápido e Devagar.

 

O ponto de argumentação do autor segue na linha de que, ao fazermos uma escolha, utilizamos nossa memória para basear nossas expectativas de retorno. Contudo, como indicado na pesquisa de Kahneman, estamos sujeitos a vários vieses e nossa memória não é (ou ao menos não deveria ser) uma fonte confiável para basear nossas escolhas.

 

O segundo passo envolve determinarmos a importância de cada meta, e para isso reunimos informações, seja de reviews especializadas, seja de recomendações de amigos/conhecidos (ou desconhecidos na Internet, que não sabemos se de fato testaram ou não um produto). Ainda, Berry chama atenção para o fato de que uma das principais fontes de informação (ainda que não devesse ser) são os comerciais aos quais somos expostos bombardeados na TV, Outdoors e listas de e-mails (hoje, acrescento ainda mídias sociais, com propaganda nichada).

 

Uma pesquisa de mercado em 1930 indicou que fumantes não conseguiam perceber diferença entre várias marcas de cigarro em um “teste cego”. Isso indica que, para aumentar as vendas de um determinado produto, sequer precisamos aumentar a qualidade real do bem, basta aumentar a forma como as pessoas vêm/percebem um produto: tudo é marketing.

 

O problema na coleta de informação, é que não somos tão racionais como pensamos que somos. O viés da disponibilidade comprovado por vários exemplos demonstra que tendemos a dar mais importância para dados recentes em nossa memória, ou que temos facilidade em relembrar devido a experiência de vida específica, ignorando a teoria probabilística de maneira grotesca.

 

O viés de ancoragem é outro amigo do marketing, e provoca facilmente aumento de vendas quando lojas de departamento resolvem colocar suas vendas (quase) o tempo todo em promoção, destacando o preço cheio (que nunca foi de fato real) para passar a impressão ao consumidor que está conseguindo uma barganha.

Acompanhado do viés do enquadramento, como consumidores, somos facilmente enganados por uma mera questão de jogo de palavras. O preço da gasolina é diferente se pagamos em dinheiro ou cartão. Mas… qual é o preço “correto”? Pagamos uma sobretaxa ao usar o cartão ou temos desconto no dinheiro? O caso foi explorado não só em Rápido e Devagar mas também por Thaler em Misbehaving, que nos conta como as operadoras de cartão de crédito fizeram lobby para que a palavra sobretaxa não fosse utilizada quando os cartões de crédito começaram a adentrar o mercado, o que naturalmente seria percebido como negativo pelos consumidores.

 

Vários exemplos são apresentados no livro para demonstrar que o enquadramento, isto é, a maneira como é apresentada a opção interfere sim nas nossas escolhas. O que significa que não somos capazes de realizar o passo (4) e (5) tão bem como gostaríamos.

 

Para complicar nosso processo de escolha, as pesquisas da teoria do Prospecto, mostraram que nosso comportamento muda de acordo com a situação (se ganhamos ou perdemos). Isso se dá de duas formas: 

 

      1. A relação entre ganho e satisfação percebida não é linear
      2. A relação entre perda e insatisfação percebida não é linear e é MAIOR que os ganhos.

Em poucas palavras, quanto mais rico, cada aumento monetário de riqueza proporciona um menor grau de satisfação. Ainda, as pessoas tendem a evitar riscos quando decidem sobre “ganhos potenciais”, mas apresentam comportamento inverso, isto é, são mais propensas ao risco quando estão diante de uam escolha com “perda potencial”. Isso corrobora que as perdas tem um impacto na “felicidade” duas vezes maior que um ganho tem.

 

As pessoas tendem a pensar que um iogurte 95% livre de gorduras é melhor do que um com 5% de gordura. Hora, ambos os produtos são iguais, mas elas tendem a comprar mais o primeiro.

Ainda nem falamos de custos afundados. Custos afundados são aqueles que entram na nossa contabilidade mental como gastos já feitos, no passado e que também influenciam nossas escolhas de uma maneira “não racional”.

 

Assim, o fato de vivermos em uma sociedade em que a gama de opções disponíveis é tão vasta, podemos dizer que ao menos temos três efeitos negativos desse fato:

 

      • A tomada de decisão exige mais esforço
      • Estamos mais suscetíveis a cometer erros
      • Torna as consequências psicológicas de erros mais severas

Finalmente, isso pode estar nos levando a sermos, em inglês, um picker. Isto é, ao invés de tomarmos decisões racionalmente (e passarmos pelas 6 etapas) apenas pegamos a primeira coisa que aparece pela frente, sem ao menos pensar ativamente nas implicações de nossas escolhas. Ou então pode nos levar a sermos “escolhedores” de primeira categoria, e então podemos ser classificados da seguinte maneira:

 

      1. Maximizadores (maximizer): que buscam e aceitam apenas a melhor opção;
      2. Satisfatores (satisficer): buscam por uma decisão assertiva, mas que não necessariamente é a melhor

O problema com maximizadores, é que a única forma de realmente sabermos qual é a melhor opção, seria necessário testar todas elas (algo inviável na sociedade moderna atual). Sem poder ter certeza da escolha do melhor, maximizadores tendem a sentir menos satisfação após escolherem, enquanto satisfatores sentem-se bem o suficiente. Para casos extremos, um maximizador pode experimentar sensações como arrependimento antecipado de fazer a decisão. São os famosos “E se X acontecesse?”

 

Berry disponibiliza em seu livro uma pesquisa para “descobrir” se você é ou não um maximizador. Você pode tentar a pesquisa AQUI na nossa sessão de quizes. A partir dessa e outros questionários que avaliavam o grau de satisfação do entrevistado quanto a vários itens, inclusive sobre seu grau de felicidade. O conjunto de respostas indicou uma alta correlação (e não necessariamente uma relação de causa e efeito) entre ser um maximizador e ser mais insatisfeito com aspectos gerais da própria vida.

O autor pontua que, em geral, maximizadores se dão “melhor” na vida que satisfatores de maneira objetiva, mas sua busca incessante pelo “melhor” os torna a ter uma vida pior subjetivamente.

 

Alguns podem ainda argumentar que existe um terceiro perfil, os perfeccionistas. Porém, para Schwartz, esses possuem padrões altos que eles sabem que não vão alcançar (como um atleta que quebra um recorde e continua em uma busca contínua por melhoria, mas sempre haverá um limite – só não sabemos qual é). Os maximizadores, por outro lado, querem alcançar a melhor escolha, sempre.

 

Maximizadores e satisfatores tendem a ter um domínio em cada pessoa. Talvez você não fique horas para escolher uma calça jeans com o caimento perfeito, mas olha todos os itens do cardápio e faz várias perguntas ao garçom antes de se decidir. O autor preocupa-se com o quanto a sociedade moderna (e a gama sem fim de opções) leva as pessoas a se tornarem maximizadoras mesmo quando não são propensas a tal comportamento.

 

As opções estão ali. Escancaradas. Por que não as observar, avaliar, medir, pesar, testar?

 

Assim, a forma como as opções são enquadradas nos leva a consumir mais e retroalimentar nosso processo de escolha para ter sempre mais do melhor disponível.

Parte III – Porque sofremos

Escolher é uma maneira de expressar-se, mostrar quem somos na sociedade. Se acreditamos que uma escolha pode revelar quem somos para o outro, até uma escolha trivial (como qual filme assistir) pode gerar uma turbulência de emoções e discussão interna. A escolha (ou a existência de opções que permitem a escolha) torna possível que cada indivíduo possa ter suas preferencias/objetivos atendidos da melhor maneira possível e respeitando as condições financeiras de cada um.

 

Para Adam Smith, o poder da escolha individual é o que garante a eficiência do mercado no que tange o equilíbrio entre produção e distribuição de bens na sociedade.

 

Essa característica nos leva a crer que estamos no controle da situação e, diante da possibilidade de escolher, o indivíduo nunca ficaria paralisado diante de suas opções. Contudo, quanto maior o número de opções, maior a expectativa que uma delas será suficiente para satisfazer nossos desejos. Se nossos desejos não são claros, o número excessivo de escolhas pode levar o indivíduo a uma paralisia, o que afeta os mercados e as transações econômicas.

 

O autor apresenta alguns estudos para corroborar seu ponto, em que a venda de canetas (ou de geleias) diminuiu quando apresentamos opções em excesso para o consumidor. E que o número máximo de vendas ocorre com um número “ideal” de opções (entre 8-10). Ainda, se o indivíduo está seguro do que quer, o número excessivo de escolhas não lhe causa letargia. Assim, cabe a cada um de nós descobrir o número ótimo de opções caso a caso.

A felicidade (ou satisfação) do indivíduo é um dos temas centrais do livro. Um dos pontos que se identifica como fundamental para a felicidade humana é o engajamento social ao qual nos dedicamos. Curiosamente, quanto mais nos relacionamos, menos livre somos (e menos escolhas temos). Mais uma falha do silogisma inicial. Estar conectado socialmente com amigos, família e/ou comunidades de fé envolve tempo. Nosso bem mais precioso e finito.

 

Tempo gasto avaliando a infinitude de escolhas que temos é tempo NÃO gasto com nossos amigos e familiares.

Trade offs

Outra parte negativa do excesso de opções é quando fica evidente o que abrimos mão ao optar por A ou B. Os chamados trade-offs, que impactam psicologicamente nossas escolhas e nossa percepção de satisfação uma vez realizada a escolha. O custo de oportunidade faz com que uma escolha não seja avaliada de maneira isolada, sempre comparando com as demais o que perdemos em não escolher. Para piorar, em um universo com muitas escolhas, é fácil imaginar que existe uma escolha ideal, que combine todas as boas características isoladas de cada opção. Difícil é convencer nosso cérebro de que a alternativa perfeita não existe.

 

Quando as opções são descaradamente destoantes, é mais fácil fazer uma escolha. Quando os trade-offs são mais difíceis de perceber, a escolha pode ser adiada indefinidamente. Isso provavelmente ocorre porque sentimos a necessidade de justificar nossas decisões, e quando não identificamos claramente o que nos levou a tomar uma decisão, optamos por não decidir, exceto que nos obriguem a fazê-lo.

Trade-offs evidenciam que estamos perdendo algo, por isso, ao pensar neles, tiramos a glória da opção escolhida. É raro quando apenas uma opção é claramente a melhor, já que o número excessivo de opções preenche pouco a pouco todas as possíveis diferenças. Assim, escolher, quase sempre envolve abrir mão de alguma coisa.

 

Ainda que pensar sobre o que perdemos com cada opções seja sábio, devemos tomar cuidado para não mergulhar em um mar de remorso pensando em tudo que não obtemos ao tomar uma decisão.

Há de se pensar que, se pudéssemos mudar de opinião, e poder “experimentar” um pouco de cada opção e seus trade-offs, não sofreríamos tanto assim. Bem, essa hipótese revelou-se fraca em estudos que permitiam que o pesquisado mudasse de opção, ele raramente o fazia. Além disso, os entrevistados que podiam mudar de opção demostraram-se mais insatisfeitos.

Remorso

O remorso nos ataca em duas etapas:

 

    1. Remorso pós-decisão: aparece após os resultados da decisão tomada, quando pensamos que opções não escolhidas devem ser melhores. Influenciam em como aproveitamos uma decisão;
    2. Remorso pré-decisão: antes de tomar uma decisão na fase de avaliação dos trade-offs, fazem com que o processo de tomada de decisão seja mais difícil;

 

Ainda há mais um viés atuando e contribuindo para nosso sofrimento em realizar escolhas: o viés da omissão. Temos a tendência de lamentar mais decisões que não foram assertivas do que decisões que poderiam ter sido melhores. Diante dos erros passados, não fazer nada é pior do que fazer (e falhar miseravelmente).

 

O remorso também atua em níveis diferentes quando pensamos no erro em si. O remorso é maior quando o erro é pequeno, pois fica fácil imaginar opções (ou situações) onde o objetivo seria alcançado com pequenas mudanças.

 

A dimensão da responsabilidade atua diretamente no remorso. Só há lamentos se somos diretamente responsáveis pelo ocorrido.

 

Nós humanos temos a tendência de recriar na nossa mente alternativas a fatos já ocorridos no passado. O nome desse processo é pensamento contrafactual que pode emergir de emoções negativas ou positivas de maneira espontânea, podendo relativizar o resultado e fazer nos sentir melhor ou pior quanto nossa tomada de decisão. Dentre os exemplos dados pelo autor, para mim o melhor é o da medalhe de prata das Olimpíadas. Ao ganhá-la, o atleta sente o gosto da derrota de maneira amarga e diminui seu mérito. Bastava uma braçada/pernada mais rápida, aquela bola na trave ou saque na rede… Nesses cenários o atleta causa mais sofrimento por não ter ganho o ouro. Agora, se nos propusemos a pensar que várias coisas poderiam ter dado errado, nem o segundo lugar seria seu. Infelizmente, as pessoas têm uma propensão por pensamentos negativos, exceto quando são diretamente direcionadas a fazer o contrário.

 

O remorso ainda contribui para nossa tendência de aversão a perda exposta por Kahneman. Escolher pelo ganho garantido de 100$ ao invés de uma chance em 50% de ganhar 200$ justifica-se quando você não sabe se ganharia ou não os 200$. Você evita em 100% a probabilidade de remorso de 50%.

 

O remorso pode parecer apensa um ponto negativo nas nossas vidas, contudo, sua existência faz com que levemos mais à sério as decisões a serem tomadas. Ao enfatizar nossos possíveis erros, buscamos escolhas melhores e nos motivamos a não errar quando nos deparamos com oportunidades de escolha semelhante. Finalmente, é um sinal de que nos importamos uns com os outros, e fazemos escolhas que não só nos beneficiem, mas também a aqueles que amamos. Ponto para nossa felicidade.

Adaptação

O efeito da adaptação (ou hedonic adaptation) é descrito como o famoso “acostumar-se” com uma nova situação. Assim, sua repetição não gera o mesmo grau de prazer como da primeira vez. O ponto referencial de conforto foi alterado.

 

O ponto zero hedônico de satisfação suavemente vai subindo, bem como nossos padrões para incluir uma escolha no set de aceitável. Isso, de maneira objetiva, é positivo, pois exige que o mercado crie soluções cada vez melhores para adequar ao nosso padrão de conforto. Enquanto a tecnologia avança, nossas expectativas são preenchidas, ainda que não sintamos a melhoria de vida no mesmo ritmo quanto nossos antecessores.

 

A lição quer tiramos do “problema” da adaptação é que a manutenção de expectativas baixas nos leva a uma vida com mais surpresas agradáveis, e experiencias mais satisfatórias. Assim, escolher o que é bom o bastante pode ter um impacto positivo de longo prazo melhor do que uma opção ótima. O melhor vinho não fica tão especial se o consumirmos todos os dias…

Relativismo

A escolha envolve, naturalmente, a experiência que obteremos em resultado da tomada de decisão.

 

Assim, fazemos quatro comparações (quase) sempre quanto ao resultado de uma experiência:

 

    1. o que esperávamos (hoped) que ela fosse;
    2. o que esperávamos (expected) que ela fosse;
    3. com outras experiências semelhantes nossas do passado recente;
    4. com outras experiências que outras pessoas tiveram.

Assim, a mesma escolha pode ser avaliada de maneira diferente por nós, a depender de como estamos no sentindo no momento da decisão. A mesma refeição pode estar deliciosa (ou apenas comum) a depender da nossa fome.

 

O sistema capitalista não contribui para nossa felicidade. Não importa quantos bens/recursos uma pessoa tenha. Seu grau de satisfação muda se muitas outras pessoas também têm acesso ao bem/recurso. Ou seria da nossa natureza humana desejar ter mais do que os outros?

 

Pessoas classificadas como felizes parecem ser menos impactadas pela comparação social, mas a relação de causa e efeito, novamente, é enfumaçada.

 

Satisfatores também têm um desempenho mais positivo que maximizadores no que tange a comparação com os demais, pois se importam menos com o verde da grama do vizinho.

Estar no controle

Um ponto de reflexão específico sobre a sociedade estadunidense é que nos últimos quarenta anos o Produto Interno Bruto mais do que dobrou, mas a proporção da população que se considera “muito feliz”, diminuiu. Ainda que a felicidade seja subjetiva, uma medida justa do bem estar psicológico é o número de casos diagnosticados de depressão, que vem aumentando em vários países desenvolvidos. A causa da depressão é tão distinta quanto seus sintomas, mas um ponto recorrente é o sentimento de desamparo e falta de controle sobre a própria vida.

 

Nota-se que, em países menos desenvolvidos, ou que tenham menos liberdade em certos aspectos específicos da vida social, o nível de controle que temos sobre nossa vida é menor. Assim, nossas expectativas também são menores, o que acaba refletindo no nosso “nível de felicidade”. Um exemplo é o Japão, que foi na contramão das taxas de depressão, tendo tido um aumento do PIB com uma leve diminuição da depressão e do suicídio.

 

A questão sobre ter controle já foi amplamente abordada neste livro, e que, ainda que ter opções possa parecer que temos o controle, não é sua infinitude que nos traz mais liberdade. Pelo contrário, ao passar de um ponto ótimo, enfrentamos a paralisia e o terror.

Justificativas

De maneira geral, o ser humano busca pela justificação de erros e falhas. Contudo, pesquisas indicam que cada pessoa possui uma pré-disposição a procurar (ou aceitar) tipos de justificativas, tendo elas a ver ou não com a causa real de falha. Os tipos de justificativas revelam nossa personalidade (ou seria o contrário?). Por exemplo, pessoas otimistas tendem a dizer “ Eu tirei um A” e “A professora me deu um C”, enquanto pessimistas encaram a situação com o sujeito invertido: “Eu tirei um C” e “A professora me deu um A”. Pessoas que tendem a justificar-se com explicações do tipo crônicas, esperam que as falhas persistam, e entram em um loop de comiseração.

 

Além disso, como já vimos, pessoas maximizadoras possuem as maiores expectativas, e por isso tem maior predisposição para a decepção. Se fomentamos um ambiente em que todos devem almejar “o melhor”, como efeito colateral ganhamos indivíduos altamente propensos ao sentimento de desamparo. Diante das altas expectativas, quase toda escolha resulta em ao menos um tipo de perspectiva falha. Imediatamente pensamos que a falha poderia ter sido evitada se escolhêssemos diferente. Isso gera um ciclo vicioso de que falhamos porque não soubemos escolher. Temos o controle, mas não fomos competentes para utilizá-lo sabiamente, e mergulhamos em um estado de desamparo.

 

 

Parte IV - O que podemos fazer

Por todo o livro, Barry coloca seu ponto de vista ilustrado por exemplos em que todos podemos nos identificar. Sua argumentação é sólida, e é difícil chegar na parte final sem concordar que o número excessivo de escolhas deve ter algum papel no sentimento geral de lamento que experimentamos cada vez que tomamos uma decisão. Talvez isso já fosse claro quanto as grandes decisões: casar, ter filhos escolher um trabalho/profissão. Mas o autor faz mais do que isso, ele chama a atenção que qualquer escolha gera um nível de insatisfação ao avaliarmos os custos de oportunidade de cada opção, ainda que essa avaliação não seja 100% consciente.

 

Somos produtos das nossas escolhas.

 

Somos produtos da maneira como encaramos o processo de decisão.

 

Somos produto da maneira como encaramos o processo da pós-decisão.

 

Para levarmos vidas mais leves o autor encerra o livro com suas “dicas” (um termo mais elegante seria conclusões após a reflexão feita por todas as páginas) para encararmos o processo decisório de maneira mais saudável.

 

    1. Escolha quando escolher: foque o tempo e energia apenas em decisões que causarão grande impacto.
    2. Reflita: invista no seu autoconhecimento para apreciar as opções que importam e quais aspectos de cada opção importam para você (e não para os outros)
    3. Priorize ser um satisfator: todos temos casos em que somos maximizadores, apenas seja consciente dessas suas classes de “pessoas” e busque mais pelo “bom o suficiente” (se você quiser ser feliz, claro”
    4. Pense em custo de oportunidade: com moderação: é importante colocar na balança o que perdemos com cada opção, mas tenha em mente que não se pode ter tudo.
    5. Opte por decisões “não reversíveis”: saber que você pode mudar de ideia pode gerar mais angústia, portanto, dê o seu máximo para encontrar o melhor em um tempo limitado. Eu gosto de pensar que devemos ser pequenos maximizadores locais.
    6. Seja grato: pratique a gratidão e foque em “exaltar” sua decisão tomada. Não imagine alternativas melhores. Imagine cenários piores.
    7. Arrependa-se menos: é uma consequência do passo anterior. Se você focar nos pontos positivos (Polianna style) você aumenta sua satisfação com a opção escolhida. Defina “padrões” mínimos e escolha dentro desses padrões.
    8. Antecipe o processo de adaptação: vimos que nossa percepção de prazer (ou de dor) em experiências repetidas tende a atenuar com o tempo. Assim, lembre-se de que a escolha do “melhor” nem sempre é o caminho a ser seguido ao longo prazo.
    9. Controle as expectativas: a rota mais rápida para a felicidade é a diminuição das expectativas. Remova expectativas extremamente altas para aumentar o seu nível de satisfação.
    10. Não se compare com os outros
    11. Restrinja-se: isto é, não ache que a liberdade pura e em todos os sentidos trará felicidade. Regras e padrões podem ser positivos não só para a sociedade como um todo mas também para o indivíduo.

Depois do que chamo dos “Onze passos para a felicidade”, termino essa resenha com a última reflexão que Schwartz termina seu livro.

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Não é fácil definir restrições ou limites. A discussão está apenas começando, mas gostei muito dos pontos de reflexão que esse livro trouxe para minha vida e a forma como encaro minhas decisões diárias.

 

E você leitor? Deixe um comentário sobre suas impressões de O PARADOXO DA ESCOLHA.

 

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